quarta-feira, 30 de abril de 2014

DIÁLOGO COM O ESPELHO, por Tádzio Nanan



Eu que me recusei a caminhar, a construir pontes
Abortei o futuro, erigi um presente repleto de ontens

Que contemporizei, recuei, me escondi, engoli a palavra
Nada tendo germinado da minha lida, da minha lavra

Que busquei tanta coisa, sem conseguir decompor suas substâncias
Levarei ao infinito esta dúvida, esta dor, esta ânsia

Que desacreditei de mim, do Homem, do porvir, imerso num vazio selvagem
Curvei-me ao medo e com ele fiz laços eternos de vassalagem

(me inquirindo ao espelho)

E tu que atravessarias oceanos, desertos, continentes
A ver o novo e o belo, a viver profundamente o que sentes

Que serias profeta, poeta, filósofo, perguntas espraiando
Que a única certeza é a de morrer e estar amando

Que com coragem prometeica ornarias com glória teu sobrenome
Satisfazendo o desejo por imortalidade, este sonho, esta fome

Que de posse dos argumentos exatos conduzirias o povo
À revolução das flores, que traria a primavera do novo 

quinta-feira, 17 de abril de 2014

SONHADOR PREGUIÇOSO, por Tádzio Nanan

Sou sonhador, vivo decantando o impossível
Nas asas da imaginação eu fico, eu faço, eu posso
Vejo uma flor e sonho uma primavera invencível
Pintando com as cores das alegrias o destino nosso

Sou preguiçoso, não tenho pressa ou urgência
É como se soubesse algum feitiço sobre o tempo
Passar devagar e suavemente; a minha ciência
É aprender com as verdades segredadas ao vento

Sou sonhador, numa realidade voraz, avassaladora
Pescando estrelas num céu cada vez mais enlutado
Contra a iniquidade brandindo minha espada vingadora:
O verbo, poema dia após dia reescrito e reeditado

Sou um sonhador preguiçoso: tudo há de ter sua hora
As cartas estão sobre a mesa, o jogo está sendo jogado
Quando menos se espera, o botão da beleza aflora
Nunca é tarde demais para o que não está consumado

segunda-feira, 14 de abril de 2014

NARCISO: O AMOR PROIBIDO, por Tádzio Nanan


Açoitam-lhes férreos olhares acusativos
Que desprezo e ódio encerram, próprios do medo
Dos que contemplam a diferença e, em segredo,
Reconhecem-se (então, laceram-nos medos furtivos...)

Marcam-lhes na face limpa o estigma do horror
E da desonra! Ceifam-lhes a vida, os oprimem
E quanto mais os castigam mais os redimem
Perante Nosso Senhor, que é perdão e amor

Observa-os: são singelos, são como crianças
Cheios da delicadeza das almas ultrajadas
Presas no ergástulo das solidões cansadas

Deixa-os! Não tem sentido o mal que lhes lanças
Em hipócritas discursos de pregador nauseabundo
Ora, Deus não fez para toda gente o mundo?!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

TRADUZIR-SE, por Tádzio Nanan

Ainda decifrando meu íntimo arcano 
E me consumo entre o acerto e o engano
Por trás destes olhos ardem mil solidões
Onde se costumavam sonhar revoluções

Meus sorrisos, brilhantes verdadeiros
Mas se eclipsam com a culpa dos erros

Sempre que começo as coisas terminam
O tempo e o destino as negam a mim e as minam
  
Animal feroz, mas prostrado, na cela
À procura dos beijos e abraços dela
  
Eu vivi o perfulgente mundo da certeza
Mas bruxuleou a luz que estava acessa

De través, olhares tentam capturar-me a essência
Mas tudo que eles poderão enxergar é ausência

Amiúde, tentam comunicar-se comigo; embalde
Gosto de suas companhias, mas prefiro a saudade

Escapam-lhe, às vezes, um risinho zombeteiro
Pois o que é real para mim não lhes é verdadeiro

Seus julgamentos e adjetivos já não me atingem
Vivo uma verdade que eles apenas fingem

Talvez traduzir-me signifique murchar, morrer
Meus mistérios são exércitos a me defender

Da vida ordinária, da lida do homem comum
Pois o que busco da vida é seu supra summum

terça-feira, 1 de abril de 2014

POEMAS DE TÁDZIO NANAN - PARTE 2

M U L H E R 

Encontrar no teu corpo o homem refém da criança
Com teus braços cultivar e colher a flor da esperança
No teu olhar viver a Paz e no gesto e no sorriso de menina
Que resgatam o transviado até e lhe transformam a sina
Penélope, Atena, Joana, Tereza, Maria
Infinitos o caos e a noite sem tua magia
Teu exemplo semeia virtudes e esparge luz
Na sombria face que ao Masculino seduz
No coração, relicário de emoções, guardas tudo
Até o rancor, que se revela em teu olhar doído e mudo
Mas é a compaixão, divina herança, tua fortaleza
Teu corpo é bálsamo, glória da natureza
A beleza universal resumida num só ponto
Ao qual tudo converge: inefável encontro


SUBVERSÃO 

A unidade da contradição
A superfície do abismo
A comicidade do terrorismo
E da privação

O método da divagação
O cânone do ateísmo
A saciedade do consumismo
E da especulação

O esforço da inspiração
A eficácia do vandalismo
A ascese do hedonismo
E da perversão

A dúvida da conclusão
E do fundamentalismo
O livre-arbítrio do fatalismo
E da alienação

O cálculo da compulsão
A tara do moralismo
A fé do comunismo
A face da multidão



HOUVE NOITES QUENTES COMO O DIA... 

Houve noites quentes como o dia...
Amei tão mais que Romeu ousara
Ao possuir-te, flor que nunca se entregara
Que te fiz meu mundo, tudo o que via
E vivi no paroxismo da fantasia
Faminto de tua sensualíssima graça
A beber-te o sangue numa taça
A devorar-te a carne na orgia
Mas amar é render-se ao que nos mata
Tu te foste. Preso fiquei a teu encanto
E me afogo nas vagas do meu pranto
Desespero: a presença de uma falta!
No teu corpo plantei minha saudade
Cujo pomo é este amargor que me invade



A VIDA: SUCESSÃO DE ACASOS... 

A vida: sucessão de acasos...
A vida: equilíbrios tênues...
A carga do elétron fosse uma diferente
A força gravitacional diferente fosse
E nada existiria:
Nada de História
De Civilização
De Cultura
Nada de gente
E suas gloríolas
E pantomimas
E patéticos dramas e ambições inúteis e contradições latentes...

Mudanças infinitesimais e só o nada existiria
Engano-me!
Tudo existiria ainda
Essas imensidões universais, escuras, silentes, vazias
O que não existiria: a sofrida consciência de que existem tais coisas
Estas coisas que só existem nas consciências...



O C A P I T A L 

O Capital avança sobre nosso código genético e nossas mentes
É a última fronteira. Sua finalidade é consagrar-se um deus, eterno
E catequizar com seu evangelho: dinheiro! Seu Céu, o nosso Inferno:
Alienação, fetichismo, tirania e outros pecados impenitentes
O Capital almeja nossa intimidade. Conhecer para conquistar
E explorar: corpos, almas, culpas, desejos, sentimentos, aspirações
Calará quem se lhe contrastar! Inculcará medos, impingirá aflições
E dividirá para que seus exércitos e os nossos jamais possam se conflagrar
O Capital e seus valores psicopáticos: egoísmo, força, cobiça, eficiência
Estamos loucos! Cegos de olhar sem ver, surdos ao clamor da igualdade
Consumidos por falsos ídolos e sofismas que destroem nossa identidade
O Capital e seu esboço pueril de felicidade: vaidade e concupiscência
Sequiosos de poder, dinheiro, sucesso – devoradores de sonhos,
Seguimos céleres ao abismo, à perdição e aos pesadelos medonhos 



O VELHO 

Cada velho, na forma de estrela, aos céus ascende
Quando passa. Palpita luz nas constelações infinitas
Seu coração, no vazio silente, ressoa verdades tão bonitas
E sua memória, na escuridão universal, é vela que se acende
Cada velho é um diamante pelas mãos do tempo lapidado
Cujos quilates são decênios de aprendizado e experiência
É uma biblioteca de livros raros, cheios de dor e sapiência
É sorriso e pranto, sonho e realidade, tudo amalgamado
Delirante, entre as temporais esferas, ele vigia
A chegada do sétimo dia, quando irá descansar
Tudo viveu, gerou, cuidou... Não, não temeria...
Já morreu tantas vezes (e renasceu o quanto queria)
A que virá, apenas passagem: mergulho num mar
Que a inefáveis plagas, tempos e sonhos o levará



É POSSÍVEL 

Tantos heróis e heroínas anônimos
Sem máscaras, rostos limpos, límpidos
Poderes só de gente comum
Tecendo suas obras
Num silêncio humilde

Homens e mulheres consagrados
Às grandes esperanças coletivas:
Paz, amor ao próximo, justiça, compaixão, verdade, perdão
E às pequenas causas cotidianas:
Amar e cuidar dos seus, cuidar de tudo que é vivo, honrar a Deus, fazer o bem

Tantos Cristos anônimos
Cruz sobre as espaldas
Numa Via Dolorosa que poucos veem ou fingem não ver
Ninguém lhes estende a mão quando caem
Mas eles se erguem sozinhos 
Ungidos por Deus com fé inelutável e translúcida
Seus calvários em nobre silêncio suportam
E se choram, choram por que é de verdade e é justo

Estes heróis e heroínas cotidianos, Cordeiros de Deus, 
Paladinos da Humanidade, são o Sal da Terra
Esperança de outro porvir, cuja semente está lá plantada no coração de cada um: regue-a, convide-a a desenvolver-se

Enquanto estes homens e mulheres permanecerem alheios ao Mal que nos confunde, intemeratos entre transviados, intimoratos entre cobardes, corações e almas plenos em meio ao esvaziamento do Espírito
Enquanto estes homens e mulheres estiverem espargindo primaveras em pleno outono, pincelando auroras quando a noite é alta, semeando virtudes em terrenos áridos, socorrendo mesmo o inimigo, oferecendo sua face, seu lar, seu pão e vinho 

Eu vou continuar sonhando
Sonhando que outro mundo é possível



R E V E L A Ç Ã O 

A morte desceu de sua atmosfera fantástica
Lasciva, hedionda, fatal, ela já me escolhera
Trouxe-me visões infernais que no Hades colhera
Arrebatando-me sua lívida beleza cáustica
Fizemos amor, eu e seu corpo infinito
No findar-se de uma e alvorecer de outra era
Prenúncio de uma voraz e ignota esfera
Mas com dor e com medo lancei um grito
Que varou os espaços inauditos sem resposta
E a cruel revelação foi nesse silêncio exposta:
Um universo moral, sustentáculo da Salvação
Fora assim, sempre, nossa mais cara ilusão
E ali em meus olhos deixou-se plantar o esquecimento
Dormiu o fogo e o maniqueísmo de todo conhecimento



AMADA IMORTAL ou Anti-Poema de Amor 

Amada imortal, em qual séptico e bárbaro leito
Te entregaste à magia do sexo, violenta e doce?
Que inculto varão acendeu a chama do teu peito
E te possuiu com primitiva rudeza, agridoce?
Outrora, tão reticente! Acorrentada ao pudor...
Agora é um macular os lençóis em abjetas orgias
Prostrando este teu pretendente, que maldisse o amor,
E louco fugiu para ver se a teu rosto esquecia...
Mas não pôde jamais! Do teu lascivo regaço, ó voraz gana!
Não posso esquecer-me de ti, ninfa impura e profana
De tuas maneiras lúbricas, de teus vícios delirantes
Vulgívaga sorvendo o bacântico sentido da vida!
Pago-te em ouro, mas me deita em tua cama bandida
E me dá o efêmero prazer das paixões fumegantes



AVESSO

Prisioneiro, libertava
Ausente, convivia
São, contemplava
O que outro olhar via

Crente, duvidava
Estéril, concebia
Alienado, asseverava
O quanto não sabia

Consagrado, pregava
Ira, infâmia e orgia
Imberbe, desfolhava

Asceta, consumia
Iluminado, inventava
A superação do dia



POLIMORFIA

Minha personalidade ciclotímica
Fixamente inconstante
Ousando voo periclitante
Refém de insidiosa química

Minha personalidade grandiloquente
Tudo diz quando cala
Ouve o que não se fala
E diz a verdade, mas mente

Minha personalidade Hollywoodiana
Dúbia personagem em cena
Nenhum roteiro a coordena
Teatralmente insana

Minha personalidade mitológica
Fênix, renascendo
Sendo, não sendo
Em sua meta-lógica

Minha personalidade cibernética
Tende a equilibrar-se no Caos
Corrigi-se auscultando os maus
É apostolicamente cética

Minha personalidade barroca
Quer ser os extremos do fio
Quer ser a castidade do cio
Repleta de tudo, mas oca



G E R M I N A L 

Serei consequência e causa da minha vontade,
Para que, preso, possa libertar-me, num grito.
Contemporizem, ao que promovo o conflito,
Para, ao calar, ter já exaurido o que arde.
Retrato fiel da própria verdade, eu serei EU.
No silêncio da noite gesto-me, ávido do dia,
Nutrido com a fé da mais imortal utopia:
Fundar outra humanidade, como Prometeu.
E serei todos que queira, como num sonho
(onde as múltiplas faces na mesma face ponho)
Enquanto o adicto desta ordem séptica
Paralítico e abúlico, só debilidade
Forja o grilhão da própria liberdade
E degenera-se numa covardia céptica



DIALÉTICA DO AUTO-ESCLARECIMENTO 

Debato-me
Numa dialética desvairada
Caminho a esmo para ver se caminhando
Meus pés me indicam a estrada
Que dará em mim mesmo
Quando enfim me tenha
Como morada

Abalo as estruturas do meu pensamento
Rego as antíteses, colho as contradições
E num turbilhão caótico de experimentos
Acho a Verdade em preces e orações
Que Deus é tudo
É mudo
Mas fala aos corações

Repercutem em mim vozes conflitantes
Sobre as grandes questões civilizatórias
Ah, saudades daquele juvenil estupor
Daquelas simplórias certezas de antes
Quando não ouvia o clamor
Dos esquecidos
Nem conhecia
Toda a falaciosa ideologia
Dos bem-nascidos

E meus sentimentos
Numa espiral malsã
Deserdados sem coração que os entenda
Exilados, sem ontem, hoje, amanhã
Contraponho-os, numa acareação ilusória
Donde extraio só mais confusão sensória
Com eles componho
Os infaustos poemas
Que a vida vai me ajudando a tecer
Sequioso pelo momento de alvorecer



D E S P E R T A R 

Enfim, a manhã de uma vastíssima noite!
Lentamente, as mulheres se vão despertando
Seus olhos desvirginam-se diante do espetáculo da luz: formas mil, mil possibilidades
Os corações estão secos:
Ó sede!
As mentes estão ávidas:
Ó fome!
As almas sonham com a amplidão:
Ó calor!
Abrem os braços, sequiosas do mundo inteiro: é um convite à Existência, deusa-mãe, para compartilhar com elas os mistérios profundos da vida
São desejos vorazes, forças fluindo livremente, revoluções em marcha
Mas ainda não se levantam. Por que não se levantam?
Porque também há muita confusão e dúvida
São um turbilhão de sentimentos, emoções, razões e desrazões
São os séculos que pesam insuportavelmente sobre seus ombros. A carga dos velhos dilemas e dos paradigmas depauperados
Têm de vencer suas sombras, transpor seus abismos
Têm de matar a si mesmas, para nascer inteiramente outras
Em breve, ágeis e destemidas, correrão atravessando os espaços e as horas. Mas não ainda, não ainda...
As mulheres, enfim, descobriram a história
Logo, logo a história também fará sua maior descoberta: a história das mulheres, o limiar da verdadeira História
Tornar-se-ão melhores reciprocamente? Sim!
Que transformações sucederão em ambas? Todas!
Algumas mulheres exigem do mundo uma indenização pela história ter sido o que foi
Paguem, vociferam, pela nossa doída plurissecular inexistência, por nosso amor castigado, por nosso corpo aviltado, ferido, vendido e comprado, por nossa delicadeza humilhada pela força, por nossa dignidade sequestrada pelo dinheiro, por nossa inútil entrega aos bárbaros e aos brutos, por nossa inteligência castrada pelos covardes
As mulheres querem revanche!
As mulheres querem revanche?
Não. Somente aquelas que ainda não compreenderam a grandeza do momento, aferrando-se ao ontem, ao invés de imaginar e erguer o amanhã
É porque enquanto o novo não se impõe, o passado chora à sua porta e dói nos corpos como Roma doeu no corpo do Cristo
É porque ainda não se encontraram totalmente (enquanto os homens se têm perdido)
Estão no meio da travessia
É duro estar no meio da travessia
Caminham num labirinto escuro, não se enxerga um dia à frente
Caem de alturas infinitas
São arrebatadas por forças ignotas
Suas identidades tragadas em redemoinhos emocionais
Injetam miríade de delírios nas veias
Têm os corações explodidos
Têm as vulvas em brasa
E repercutem o grito de Munch
E enlouquecem como o pintor holandês
E desistem como os suicidas
E se envenenam lentamente (enquanto envenenam o mundo com a cicuta das feridas supuradas)
Olham-se no inexorável espelho da alma
E veem o monstro de Frankenstein:
Um pesadelo composto de mil pedaços ainda não revelados
Não sabem quem são
E dói ignorar quem se é, o que se é, o que se quer
Partem em busca de si
Perseguem-se
Querem saber quem são
Querem decifrar este enigma
Traduzir os arcanos do feminino, plantados em seus corações desde tempos imemoriais
Mas ainda há muita ignorância. E o caos
Ainda sonham com a maternidade, ou preferem uma liberdade egocêntrica?
Trocariam uma vida de doçura e calma pela pantomima cínico-traiçoeira do poder, do dinheiro e da glória?
Anseiam por ter o respeito, quem sabe o temor dos homens, ter o mundo a seus pés? Ou preferem, humildes, ajoelhar-se e beijar os pés da Terra?
Um homem (o ideal)? Ou todos? Ou nenhum?
Ó sede!
Ó fome!
Ó calor!
Levantam-se
Tropeçam, caem, soerguem-se
E avançam
A marcha de um exército?
Um cortejo pacífico?
Aí vêm elas:
Sombra e objeto
Potência e ato
Sonho e labor
Escuridão e luz
Mas, desde já, livres de todo senhor e de toda cruz! 

LOBISOMEM 

(1)

A fera
Espera
O momento certo
De erguer o cetro

Impera
No instante
Em que se encerra
A censura da consciência

Esmera-se na vertigem da lucidez
E assoma na insensatez das paixões humanas


(2)

Um lobo corre
No labirinto da tua
Existência

Até que ele acha a saída
E destrona tua fugaz
Consciência


(3)

No esfíngico rincão
Do inconsciente
O primitivo que há em nós
Movimenta sua mão devastadora

No espelho
Esse antípoda de nós
Algoz silente e atroz
Íncubo que atormenta
A humanidade de todos
Medo de mim e dos outros

Hedionda face na íntima janela
Animal fugido da cela



D E S E S P E R A N Ç A 

Em etílico assomo brada
O cobarde a desdita que o enfada:
“De outrem o fado cumprido
A vida é vazia, os dias, sofridos”...
No íntimo exílio, à mesa de Baco
Olvida-se com álcool e tabaco
Receando os algozes, os imigos
Prostrado por tantos castigos...
Ímpeto que o fizesse afrontar
E o vestisse de aço, pra pugnar...
Só teme. Quisera assustar!
Sonho que o incitasse a lutar
E o erguesse pra uma revolução comandar...
Mas morre. Quisera matar!



DOIS POEMAS 

(1)

Vencer o destino
Indo além do previsto
Insisto no desatino

Ir além do concreto e do real
Mergulhando no secreto e no ideal
E viver nos sonhos
S o n h o s
T a m a n h o s

Suplantar o fim
E renascer 
Menino
Numa espiral
Recorrente
Ser imortal 
E inconsequente

Poeta do excesso e do abscesso
Versejando o avesso e o transversal
Nunca onde posto
Uno e composto
Este e o oposto

Peito arquejando
O inarrável
Veia transbordando
O mistério
Expandindo meus desejos
Na anti-gravidade das horas
Expandindo meu universo
Com a imprevisibilidade do verso


(2)

Sou vário
Multifário
Alegria e calvário
Ao sabor das horas
E das desoras...

Eterno como os números
E fugaz como as palavras...

Virtudes ímpares
Pecados plurais
Razão e absurdo
Clamor surdo... 

Livro inconcluso
Que se reescreve
Na urgência
Do que nasce
Ou morre...

Viandante
Que parte para onde ignora
Mas chega sempre onde mora
Porque mora em tudo...

Mundos 
Ardentes
Diferentes
De mim mesmo...

Passos à toa
Perdidos uns dos outros...

Sem fim, sem começo
Todo dia me esqueço
Todo noite amanheço
Buscando por Deus
Mas não sei se o mereço...



O N Í V O R O 

Vivamos livres, sem limites
Condenados à liberdade
Ao ócio, aos instintos
Como deuses loucos e lindos

Um nome?
Uma identidade?
Não nos serve...
Somos tudo, somos todos
E somos nada 

Certezas e saudades?
Emprego e propriedades?
Correntes que nos agrilhoam
Falsos ideais a nos escravizar

Sem destino, sigamos
Para além do que já foi pensado e vivido
Inventemos novos sentidos para a vida
Novas trilhas para o mundo
Para a mente
Para a gente

Morte à pátria, à religião
Ao Capital e à moeda
Não nos basta o que temos:
O mundo, a humanidade, a filosofia, a arte?
E o futuro, gestado em nossas mentes

Qualquer coisa estranha a nós mesmos, não nos serve...
Por que degredar-se para longe de si mesmo, degradar-se?
Revoguemos tempos e espaços
Vamos ter o que é nosso
Façamos com nosso braço
Digamos com nossa boca
Vejamos com nossos olhos
Sintamos no nosso corpo

Esqueçamos das convenções
Pseudo-verdades alardeadas
Desacreditemos de tudo
Quem disse que esta era a ordem?
Que tal era a verdade?
As verdades são tantas quantas as estrelas no céu
E tão voláteis quanto os segundos no tempo
O caos é a única ordem que se fez
O acaso, o fortuito, o contingente

*

Cordeiro, abandones teu rebanho
Te entregues à liberdade
Não há lei, autoridade, hierarquia
Vivas no reino da anarquia
Onde todos somos absolutamente iguais
D i f e r e n t e m e n t e
Onde todos somos absolutamente distintos
I g u a l m e n t e 

Não há nada que não queiras
Rias em desafio
Batas no peito com força
Enfrentes o establishment
Enfrentes o mainstream
Até que tremam, claudicando

Enfrentes! Que sejas tigre
Não cordeiro
Escrevas com teu punho
Creias na tua obra
Caminhes com teus pés
Marques teus próprios passos
Esqueças os dos outros
Se os outros são cobardes
Sejas intimorato, força telúrica
Obra plena em si mesma

E se fores viver, vivas livre
E se fores morrer, morras livre
Revogues tua escravidão
Removas tua corrente
Te resgates do teu cárcere
E vivas livre e morras livre

Enfrentes os tiranos
Os tiranos merecem a morte
Enfrentes teus inimigos
Os inimigos merecem a morte
O medo, a morte, esqueça-os
Amplies-te i n f i n i t a m e n t e
Tua vocação é para a liberdade

Não queiras ter fronteiras
Somos todos infinitos, em contínua expansão 
Sem começo, nem termo, como os universos na eternidade
Não queiras ter posse nenhuma, senão tu mesmo
E o mundo, a humanidade, o futuro
Que é tudo teu, que é tudo nosso
Que é de todo mundo
E de ninguém


SERVIR
Servir a si mesmo – que delícia, é um direito natural
Da condição humana, o primeiro e fundamental motivo
Que advém da inestimável e rara consciência de estar vivo
E ser dono dos frutos do próprio esforço laboral

Servir a si mesmo e, desta forma, servir aos demais
Ofereço aos outros um futuro melhor ao pensar em mim
Os interesses diversos se conciliam para operar estes fins:
Afluência material, bem-estar, felicidade, justiça, paz
Servir aos demais – que oportunidade, é divina lei
Da religião e filosofia, o ensinamento mais sublime
É aquele sopro de ar benfazejo que a todos redime
E no benevolente serviço alcançamos o posto de reis

Servir aos demais e, desta forma, servir a si mesmo
Uma sacrossanta energia me toma, alentando o coração
Socorrendo o próximo, Ele também me estende Sua mão
Me ergue, me guia, me salva de caminhar a esmo

B U S C A

Busco-me em minas profundas
A ver se me descubro tesouro
Potes transluzindo ouro e diamantes
Para ver se lá no fundo me encontro
Maior e melhor, como nunca dantes

Senhor de minhas faculdades
Reerga-me com a força de gigantes, 
Rebentando o grilhão dos medos e das saudades

Na escuridão dessas minas
Paradoxalmente possa ver-me melhor
E descobrir o herói, o guerreiro, o artista
Que porventura em mim existam
Quase asfixiados
Na inércia dos acanhados

Medito para ver se me materializo num santuário
Onde os sonhos vêm trazer oferendas 
Para forças imortais cheias de plenitudes

Também mergulho-me nos meus oceanos
Para ver se descubro pérolas de antigos naufrágios
Joias esquecidas em longos anos de afogamento

Essa busca, não sei bem aonde dará
Mas a recompensa de caminhar não são os passos dados,
Onde quer que os pés descansem, no fim da longa jornada?

Mas intuo: essa busca há de me revelar a mim
Para que descanse nos braços da quietude, enfim
Essa busca há de me revelar Deus, também. 
Que é tudo a que tenho ansiado. Amém!



O PONTO DEUS

À noite, as vastidões do nada me aterram!
Tenho estado de Deus uma vida inteira ausente...
Ajuda-me Senhor a desvendar o tudo no nada presente:
Quero vislumbrar o espaço infinito no átomo
Quero sentir a eternidade nas asas do átimo
Quero ver e sentir muito mais, muito além
Do que se vê e sente

Os abismos incomensuráveis da matéria é fera
Que enregela as fibras do meu coração
Sei agora - sabemos todos: 
Nossa mente para crer foi forjada
Porque só assim faz sentido e suporta-se 
Esta brevíssima e agônica jornada

Sou um falso profeta da matéria
Do frio silêncio universal...
Tudo mentira banal!
Sou um falso crente do acaso e da probabilidade
Porque em tudo agora vejo um sentido e uma verdade



SONHOS 

Meus sonhos iluminam-se da tua arcangélica beleza
Neles, ponho-me aos pés da tua nudez, arrebatado
De ti, toda minha natureza tem-se ocupado
Em êxtase tem vivido e estado acessa
À tua regência, meu universo inteiro cala
Só o coração pulsa em ardente desejo enlevado
A te esperar, fonte de tudo que é mais sagrado
Secretamente, nele tua voz sussurra e fala
Teu corpo, esplendor da forma, exala perfume inebriante
Que cativa e engana. Já amo mais que Romeu e Dante
E fico cismando as delícias da tua boca, da tua tez
Sentir a nívea doçura do teu corpo, que Deus fez
Embriagado do ardente azul do teu olhar
Perdido no sonho de nunca mais acordar



VÊNUS DE ÉBANO 

A lasciva noite jaz na epiderme
Exalando a luxúria dos amantes
A consagrada nudez: inquietante
Visão do Éden; obsessão em germe
Deusa de ébano, lábio africano
Divino lume o viço lhe engalana
O beijo, veneno doce como a cana
A desvairar o varão americano
Negra! Singular perla dos mares
Canto de sirena rasgando os ares
E o Odisseu se arrebatando
Manhã de primavera acordando
Êxtase sublime, loucos devaneios
Vertigens noturnas e seus enleios



D E U S A 

A cútis branca, lençol de luz
Que a veste. O púbis negro,
Inflama no ensejo, reluz
Na lascívia do meu estro
O ventre, porcelana delicada
Templo de amores e idílios
A vulva, olente e nacarada 
Vertendo o licor dos delírios
As melenas, noites encaracoladas
Escorrendo rio sobre as espaldas
Afogando os seios, pequeninos seixos
As curvas, inebriantes, nos eixos
Olhares vagos, dissimulados
Mil e um amores transviados


DEUSA II 

Porte aristocrático, olhares altivos
Classificando com ares imperativos
Movimentos ligeiros, de bailarina
Fibra de mulher, frescor de menina
O coração semeando a saudade
Volúvel demais para a saciedade
O verbo é um gládio, machucando
A fé cega dos que seguem acreditando
Narizinho aspirando (a)o céu
As mechas da cor do mel, véu
De estrelas refulgentes
Os olhos: sempiternos verões
Ardendo em estrepitosas paixões
Opalas de fogo tão quentes!


VIDA (ou SOMBRA) 

Informe, aflita, errante apenas sombra
No ermo da alcova projetada do incognoscível
É miragem a vida, de concretude impossível
Esfinge cujo canto fatal assombra
Outra quimera a realidade, ilusão sensitiva
Divindade nascida da nossa inconsciência e loucura
A urgência infantil de semear luz na infinidade escura
Autoengano psíquico, superstição cognitiva
O poeta revela, ele sabe: só existe o nada!
Raciocínio, sentimento, paixão: fraude biológica
Que é trama cerebral a existência, é mitológica
Entanto, fingi crer na mentira inculcada
Introjetando o absurdo espetáculo, desconexo
Onde tudo o que somos é vertigem e reflexo



A FERA 

A fera vem da sombra ancestral
E sua garganta a noite inteira verte
Que a luz envolve e reveste
Bêbeda, regurgita o Mal
Olhos incandescentes, labaredas queimando
De tanto desejar a Morte, que a espreita
Para juntas pregar a guerra como seita
Que é a constante do quando
Seu ódio asfixia a inspiração da Paz
Forjando miríade de grilhões, de gládios
Que fazem das épocas históricas plágios
O Inferno com suas mãos pode. E faz!
Ela quem é, somos nós?
Nossa oculta face, atroz?



ONÍVORO II 

Fome audaz, implacável, soberba, profunda
Consciências devoro, civilizações, universos
Regurgito tudo depois, em moldes reversos
E o que a razão aplanava o caos aprofunda
Ó sede inconsciente, primitiva, sede de morte
Minha sorte é o fim fomentar, e o recomeço
Tudo fenece à minha volta, mas permaneço
Avesso vivo; morro; e tudo pode nascer de novo
A culpa e o medo foram assassinados pelo desejo
Absolva-o que ele é a força vital da natureza
A outra face voraz divina infernal da Beleza
Fome, sede, desejo põem-se a inventar o ensejo
Dê-me um segundo e faço tremer a Eternidade!
Um punhal para cravar no coração da Verdade!


DUAS ESTÓRIAS DE AMOR INDELÉVEL


Qualquer instante guarda a eternidade em si
Porque nele sussurram as vozes das infinitas coisas existentes
Decorrentes de outras infinitas coisas já extintas (na verdade, não extintas, mas que se transformaram, apenas)
E fonte das outras coisas que haverão de existir ainda, numa interminável, irrefreável e inter-relacionada cadeia de causa e efeito, a maior de todas as belezas físicas

Todo instante marca indelevelmente a memória do tempo, o corpo do espaço, que são o verdadeiro Deus a venerar
Um dia saberemos acessá-los: tempo, espaço, Deus, e todas as verdades, enfim, nos serão reveladas, dentre as quais, o Absoluto, que, ou se redescobrirá relativo ou nós nos redescobriremos absolutos

A eternidade, portanto, são infinitas ondas de eternidades que se complementam, ondas passageiras e evanescentes, como o instante, que é eterno e infinito, porque encerra tudo: todo o antes, todo o depois

Que amantes apaixonados a eternidade e o instante!

*

O pensamento é infinito

E quanto mais o pensamento percorre os labirintos cerebrais, mais e mais alarga todas as fronteiras, inventando outros universos; igual à luz, quando se espalha, revelando tesouros de cores e formas

Mas é só fátuo lampejo o pensamento quando o pomos em modelos, vulgares arquiteturas de números e palavras, porque o pensamento só é infinito na mente, porque esta é infinita, integrada à pura energia universal, e dela à linguagem quase tudo se perde, irremediavelmente, ou torna-se sofisma ou poesia medíocre

Quanto maior é o pensamento mais ele
Repousa nos olhos
Silencia nos lábios
Arde no peito dos que o concebem (e, reciprocamente, são concebidos por ele)

O maior pensamento, o pensamento infinito não pode ser traduzido porque é um tipo de “sentimento”, só podendo ser (com)partilhado entre almas

Que amantes apaixonados espírito, mente e pensamento!


REMEMORO A INFÂNCIA... 

Rememoro a infância... Deus, onde a guardou?
A criança que fui, repleta da doce inocência, existiu?
Ou apenas miragem que na alcova do Tempo dormiu
Entre as agônicas sombras que Ele sonhou?
Doce é também a consciência que temos da morte
Porque bálsamo se faz contra as dores do mundo
Ponte para um esquecimento sereno e profundo
Visto que o perene é a matéria e só o crê o forte
No instante que se esgota, coisas aos milhões desvanecem,
Consciências e mundos. Deus quer que elas cessem
Apenas Ele, absoluto, comporta outro sentido
Segue o humano, assim, sôfrego do tempo presente – 
Essa ilusão dos sentidos. Fingi crer, mas pressente
Que não há glorioso destino que lhe seja devido



QUISERA AMAR-TE 

Quisera amar-te comedidamente

Com hora marcada e a luz apagada

Cheio do casto pudor de antigamente

Sem arroubos românticos

E copiosas lágrimas de ciúme...


Amar-te mansamente, sem os carrosséis de emoção

Dos aficionados em paixão

- essa convulsão dos sentidos

Sem ramalhetes de rosas

As insinuações dolorosas

E os pratos no chão partidos...


Amar-te racionalmente

Como quem quase finge o que sente

Sem poesia, sem saudade, sem plenilúnios à beira-mar

Sem acordes de um violão...


Quisera amar-te

Como uma simples troca de favores à meia-noite:

O mercantil romance finissecular...

Mas tal amor, querida, eu nunca poderia dar...





PRESO 

Preso 

Ao Big-Bang

A este universo

Às leis da física, química, biologia

Aos acontecimentos fortuitos que deram origem à vida

À evolução da vida e suas leis intrínsecas

Às particularidades da minha espécie, da minha vida e seus determinantes orgânicos, mentais, psíquicos

A um Deus que me invento e seus mandamentos

A um Deus que se inventam e seus mandamentos

A este tempo, a este pedaço de século, sua técnica, tecnologia, moral, ciência, filosofia

A este sistema socioeconômico e suas contradições frementes

A esta pátria e língua

A este corpo e mente

Aos genes dos meus avoengos e suas mutações aleatórias

À cultura,

À personalidade

Aos Fatos Sociais

Às variáveis estocásticas que me fizeram quem não sou

Aos meus sonhos e medos, desejos e delírios, fracassos e gloríolas

A estas pessoas, às prisões destas pessoas, à loucura destas pessoas

A esta vertigem e a esta dúvida metodicamente martelada: existimos, de fato? 

Não obstante, LIVRE! LIVRE para renunciar a tudo.

E até nisso, preso: preso ao livre-arbítrio, dádiva (e castigo) de Deus aos homens

Livre para renunciar a tudo! 



TEU OLHAR 

É teu olhar que lança ao frio e negro firmamento
A energia, o ardor, a luz que o vão despertando
Nele, a infinita amplidão cabe num momento
E, um ao outro, instante e eternidade estão amando
Teu olhar é também uma súplica ao vento
Sussurrada pelo exangue moribundo, quando
A Dama Negra nele fixa seu olhar sedento
Teu olhar é também dor e mágoa castigando
Teu olhar é a Paz (quase nunca o nosso intento...)
Janela onde vemos o Cordeiro as virtudes alentando 
E extasiados de beleza olvidamos o destino violento
Teu olhar é uma pungente dor secreta, lancinando
Que provoca multifárias explosões de sentimento
Vendavais de poesia, ondas de paixão e de tormento



BRASILIDADE 

Nossas múltiplas raízes, profundas e diversas
Que a longínquas plagas e tempos remontam
Reminiscências ancestrais assim nos contam
Da cultura de civilizações vivas e dispersas
As etnias ibéricas no sangue amalgamadas
Seus credos e valores, nossa plástica moral
O pecado primitivo e o paradoxo nacional:
Defeitos hediondos e virtudes afamadas
Subsistem n´alma visões de um mítico oriente
E de traços setentrionais longevas inspirações
A galhardia negra e índia também é presente
Matriz das nossas controvertidas paixões:
Fincadas no inconsciente, a ganância e a luxúria;
E o Amor, da herança se opondo à parte espúria



POEMA SÁFICO 

Delicados afagos azuis, teus olhares me aquecem,
Confortam; a ti descortino meus multifários arcanos
Para que chores em silêncio comigo meus desenganos
E te rias das alegres virtudes que me convalescem
Suaves brisas cariciosas, tuas mãos me conhecem
A toques tímidos; levam-me ao limiar de reluzentes anos
Onde teus lábios noites viris me farão esquecer e seus danos:
O golpe dos brutos, que até hoje meu corpo e alma adoecem
Teu corpo, virgem enseada para aportar Titãs; entanto,
É divergente no desejo; aspira por igual arquitetura:
Templo de prazer sem contraste, só amena ternura
Teu espírito, diamante lapidado com lumes de encanto
É poesia transbordando no seio de cada sentimento
Uma que só o feminino pode ler com entendimento



O TROCO 

Fingir
Sujeição

Aspirando
No entanto
À ação

A voz
Recolher
Humildemente
Pôr-se calado

Até soar
O canhão
Na forma de brado

Cogitabundo
Em sua aurora
Dizem-no triste

Mas prepara
Entrementes
O domínio das mentes:
Mil argumentos em riste

O corpo torturado
Não a alma: intemerata
Sem cortes, sem sulcos, sem data

Quebrantado
Agora
Mas forja-se
Na fornalha das horas
De sonhos

Fendido
O peito
Mas segue multiplicando
A carne no leito

Dócil, segue
Transigindo
Para que tudo se vá convergindo
À revelação do segredo:
Não tem mais medo

E os inimigos
Desapercebidos
Zás!!
Estarão mortalmente feridos



AOS ESCRAVOS DE TODOS OS TEMPOS – I 

Antes, a corrente gravava na carne sua insígnia
Sabiam-se os algozes, binária a lógica do mundo
E houve até escravo idealista que, meditabundo
Sonhou e levantou-se para pôr fim a tanta ignomínia
Mas fracassou... Hoje, o grilhão também é ideal:
Com boa indumentária escravo há que se crê liberto
Não é senão autômato que representa a cada gesto
Grotescas personagens de um Espetáculo brutal
E os há ainda escravos como na Idade Antiga
A pão e circo, eterna via-crúcis de humilhações 
Massa amorfa condicionada à miríade de prisões
Qual símbolo, que face representa a hoste inimiga?
Toda ideologia pulverizou-se: grito perdido no vento
E todo idealismo resume-se a um ineficaz lamento...



AOS ESCRAVOS DE TODOS OS TEMPOS – II 

No escravo, o fogo que sublime e feroz fulgiria
Arrefece e é cinza ante o silêncio e o medo
Carrascos que lhe impõem miserável degredo
O de si mesmo; e ele acata quando subverteria...
Dê escravo ao seu alquebrado coração um lenimento
Creia no sonho que lhe faz humano e creia no desespero
Reúna as suas dores e delas ergue um homem inteiro
E lute para ser livre, que é o único sacramento
Diversa Roma se nos impõe (quantas ainda sobrevirão?)
A de Enéas tremeu ante o braço viril da escravidão:
Spartacus! Epopeia escrita em sangue, libelo
Contra um mundo que flagela qual pesadelo
Sonho épico alastrando-se no invisível do ar
Com a imorredoura canção da liberdade a ecoar



BRASIL 

Pungente mosaico de contradições não resolvidas
A pátria amada sonha o ideal da justiça e da igualdade
Atormentada pelo passado, do porvir tem saudade
Mas lá também suores de Hercúleas lidas
Hesitante e trôpego, o colosso com passos vagos
Percorre a trilha de seu histórico e cruel labirinto
Junto a si o povo que erra deserdado e faminto
Ainda esperando a utopia e seus cariciosos afagos
Civilização tropical portadora da áurea promessa:
Inventar uma existência feliz, produtiva e sem pressa
Todavia, tal primavera é apenas botão neste instante
Mas que há de mudar em idílico jardim de doces frutos
Que este povo heroico já não tolera o açoite dos brutos
E uma elite venal de seus ideais dissonante


SOBRE UM TEMA DE TORQUATO NETO

Eu sou como eu sou

Poeta

Traduzindo com a verve

A meta

Que o caos traçou pra mim

Por todos os meios

Até meus fins...




Eu sou como eu sou

Cobarde

Hei de abrandar o sol

À tarde

Também à luta

Me visto

Agarro-me aos sonhos

Que a mim mesmo imponho

E insisto...




Eu sou como eu sou

Debalde

Não me corrói o peito

Saudade

Deslizo nas vagas do

Vinho

Deliro nos braços da noite

Sozinho...




Eu sou como eu sou

Paladino

Dobrando o sino

Das revoluções

Extemporâneas

Preparando nossos corações

Para as guerras e para as manhãs


E louco

Rouco de bradar veleidades

Porque pouco capaz de saber

Das Verdades

E do Amanhã...



SEM DÓ, A MORTE O HOMEM DESMASCARA!

Sem dó, a Morte o Homem desmascara!
Olhai esta bela jovem, a se decompor
Ontem, lânguida de desejo se entregara
Ardente e sussurrante ao deus Amor
Sonhos puros, nada ainda os maculava
Lembro de seus olhos noturnos, amanhecendo
Num esplêndido dia, cujo fulgor auxiliava
A humanidade a convalescer da hipocrisia
Seus sentidos lançados aos pedaços
No silente enigma da física atômica
A inteligência, de habilidosos laços
Tragada numa vertigem astronômica
Espelho implacável, a Morte revela
Nossa face de fragilidade e impotência
Agora, dai-me licença, vou acender uma vela
Ajoelhar e chorar junto ao corpo dela




DOIS POEMETOS

1)

Antes que o sono venha

A romper a veia

Da memória

Visto-me à vitória



Antes do crepúsculo

Treino o músculo

E a mente tímida

Para desarranjar lógicas



O frio antes de me gelar a veia

Embriago-me do sol

E de sereias



Nos olhos, a urgência dos tempos

E dias de enfrentamentos



2)

Ascende o sol nas retinas

Repletas de amanhãs

E manhãs cristalinas



Arde a flama olímpica

No coração

Imaginar

Nova estação



O olor inebriante 

Das primaveras

Toma-me celeremente

À alvorada da mente



As culpas, os medos

O medo da morte

Fenecem



O que era silêncio

Transmuta-se em melodias

Às vibrações de outros dias



Assim, ouso o sonho

E como um pedreiro

Ergo a própria obra

E a obra coletiva



Tudo que é sublime

Imprime-se nos atos

De fé e ousadia



DOIS POEMETOS

1)

Viver integralmente

A própria finitude

Viver e morrer tudo

Dentro e fora de tudo

Ser o suave e o rude



Perseguir a totalidade

Da própria incompletude

Tudo nutrir e secar

Tudo sentir e negar

Até a grande solidão

Ataúde



Morrer

Na fugaz

Eternidade

Das horas



Renascer

Na aurora

Do íntimo

Mistério



Ser mais torto e reto

Amiúde



Sonhar (-se)

Ensandecido

Esquecer (-se)

Ser esquecido



2)

Só o silêncio a ser dito

Num surdo e estático grito



Nada a viver, mas a morte

Íntimo consorte



Desflorecer a aurora

No insulamento da hora



Nada a urgir na consciência

Castrar a concupiscência



Cultuar humanos flagelos 

Olvidar ingentes anelos



Cingir-se ao deletério



Leve

Repousar

Nas asas do mistério



ÀS PUTAS 

Saciado na ciência de um leito multitudinário,
Esquivo-me da virgem presunçosa que me pretende
E rio-me do pregador hipócrita que defende
A supressão deste prazer consuetudinário
Porque menoscabar uma multimilenária ocupação?
Acaso sabe a dama o que sabe a mulher do arrabalde?
Acaso não nos deixam mui contentes, com saudade
E revigoram os liames da mente e o coração?
Soporífero quanta vez o regaço da jovem virtuosa
Melancólica pode ser a castidade, acre e fatigosa
O que de infame haveria em amar com as putas?
Também elas rezam, como nós, antes da labuta
Também filhas de Deus, como a rainha da Inglaterra
Ora, e no fim não vamos todos namorar a terra?!



VIDA! 

A vida é o paradoxo do entendimento!
Vede! A beatitude e o horror congraçados
Dialética e imortalmente irmanados
Artífices do humano experimento
A hecatombe, o holocausto do sentimento!
Delitos, perfídias, culpas nunca expiados
Sonhos e paixões e ideais conspurcados
Num turbilhão de incognoscível movimento
Uns desfolhando os planos malogrados
No doído escaninho do esquecimento
À cruz dos severamente castigados
Só misérias, só padecimento
Outros, de casto lume embriagados
No ingênuo, fútil, tolo alheamento
Das almas e dos corpos saciados
Por graça de um vil sorteamento



ADMIRÁVEL MUNDO NOVO 

Deus e o diabo somos nós, irmãos humanos
Nossos desejos viscerais, contraditórios
De resultados luminares e proditórios
Imensuráveis amores e ódios levianos
Adiante, no entanto, o além-do-humano
Quando toda miséria é mero palpitar surdo
E a dúvida é extinta, que banido o absurdo
Da Civilização, já liberta de todo engano
Mas lá, quando traduzido o arcano derradeiro,
Que se imaginará? Todo pedaço será inteiro?
A onisciente e estéril satisfação tecnológica...
E impregnados da nova, pura e voraz lógica
Nossos herdeiros, deuses inúteis, embriagados
Na perfeição fastidiosa calarão, entediados...



PEQUENO POEMA DE INSURREIÇÃO 

Desfaz-se neste meridiano a aurora

Remodela-se o homem ante uma diversa realidade

Já vejo vir batalhas ardentes e fatais

Que só travam aqueles que ouvem 

A própria voz e ousam

Vitórias, derrotas... Batalhas

A obra a compor

Nenhuns outros passos: ao leste

A ausência cumprida

Sepulto-a nas margens de remotos rios:

Serenas lembranças da inocência

Nesta hora, o aço! O golpe do braço!

Retomar a ponte desfeita

Abrir portas para o mundo

A lida única que me ensinaram os pais que tive

Capitulei, mas basta!

Ao cume do Olimpo

Roubar o fogo divino

Outra vez

Sonhando em fazer amanhãs

Com vocês



PEQUENO POEMA DE SEPARAÇÃO 

Corpos que não se entregam

Olhares oblíquos ou indiferentes

Rostos lívidos de cansaço

Mãos distantes, severas; o toque é acidental

O ninho de amor está frio

Agora, só reminiscências, só saudades

A casa é um relicário de imagens:

Fantasias sepultadas, filhos proscritos

Aquelas viagens inesquecíveis nunca feitas...

No leito do amor de outrora

Silêncio tumular entrecortado

Por prantos ressentidos

E ásperos solilóquios

A vida parece arrastar-se

A hora parece arrastar-se

Antes, o tempo era regulamento conservador

Para os apetites da carne e o encontro das almas

É a dúvida, que tudo devasta como fosse procela

Que lacera como punhal

Tudo foi inutilmente?

A cama compartilhada, os sonhos compartilhados,

O riso compartilhado?

O espelho partido desfaz a vida em mil pedaços

Lá fora, o mundo é o mesmo remoinho de vidas

Entrechoque de gentes, ódio e carinho

Mas amanhã é outro dia

E tudo pode recomeçar...



SONETO DA ESPERANÇA PASSIVA 

A esperança invade a veia do povo e o embriaga,
Como uma noite que obscurecesse seu entendimento.
Esperar?! O derradeiro, quiçá o fatal movimento
De uma hoste que o medo arrefece e esmaga.
A eloquência do líder a alma do povo afaga.
Mas, que palavras realizaram que sonhos?
Palavras são artifícios pueris e enfadonhos
Com os quais fingimos mitigar nossa chaga!
É verdade que tua hora sussurra na brisa, Sul-Americano.
Teu olhar, férrea hematita, mira uma civilização tropical,
Onde a igualdade, áureo sol, irradie todos os dias do ano.
Mas como? Se a sujeição ao divino te faz prescindir do real;
Se crês ser teu líder alguém infalível, sobre-humano;
E abdicas do próprio ideal, que é cabal, sem engano...



LIVRE NASCESTE, MAS QUANTOS TE ALMEJAM ACORRENTADO... 

Livre nasceste, mas quantos te almejam acorrentado!
Estupefato com o drama humano, abúlico, inerte
Esquecido de que o sangue esquenta nas veias e ferve
E a reação é legítima contra os que te têm açoitado
Resoluto nasceste, mas quantos te querem claudicante!
Porque previsíveis teus movimentos não surpreendam
E os pensamentos tímidos, pueris, não transcendam
A lógica inimiga; um débil, venal, mendicante
Projeta o status quo curar-se das células cancerosas
Para que tudo opere num certo intervalo de confiança
Onde se evite súbitas sublevações morais perigosas
Tua nova visão, supremo ideal, revolucionária ânsia
É o câncer temido (embora estejas só, por enquanto...)
Mas é fatal mudares teu choro em magnífico canto!



T I T à

Céu e Terra certa vez, e com ardor, se amaram.
O fruto, virtude celeste, força telúrica, é Titã
Empenhadíssimo em conceber o amanhã
Com verdades que milhões não decifraram
Nas fibras do seu coração vicejou inabalável afã:
Derramar luz em sendas que se conspurcaram
Sanar as mentes que as trevas deturparam
Para a existência arder lúcida, cabal, sã...
E os pusilânimes, os ignaros dele duvidaram!
Não sabiam que proviera de atemporal clã
Cujos antepassados são deuses que sempre conquistaram?!
A boca seca da invídia lhe disse: tua intenção é vã!
Como? Se nela inteligência, força e ousadia se mesclaram
Produzindo êxitos que a Céu e Terra já tanto orgulharam!



PARA ARTHUR RIMBAUD 

O desregrar-se: tua mira,
Alvo só por ti subjugado.
Foste um recriar-se dia-a-dia,
Recriando-se te fizeste mito raro.


Dos covardes acentuaste a hipocrisia,
D´outros, a candente invídia temperaste.
Qual ventre ornou-te de ousadias,
Mas descuidou-se dos excessos aparar-te?


Anjo & Demônio, belo torto,
Bateau ivre em amores puros e violentos.
Visionário do sol, em longes mares absorto,
Precursor de ignotas estradas e alentos.


De poder impossíveis, tu brincaste,
E os fez, avidamente, timoneiro-mor.
Sobre os alvos pés a Poesia dobraste,
Que em tua alma ébria foi maior.


Inda precoce imberbe (fugaz fulgir),
Cansaste do vigor dos versos singulares,
Abandonando órfã a Poesia, a desflorir.
Arte, pátria, amor, não eram mais teus lares.


Urgia da ágil sina provar os mil sabores,
E então andarilho, traficante, hippie pioneiro.
Perdeu-te o mundo, perdeu-se alhures,
Dormindo para repousar no Olimpo, altaneiro.



M U S A 

Chamar-te no calor da noite
Que a ausência é um açoite


Desvelar com afã juvenil
Teu corpo primaveril


Amar-te nas chamas da cama
O sol de quem ama


Devorar-te a carne na fome
Esse desejo do homem


Beber-te toda na sede
Teu suor, tua seiva, teu leite


Aquecer-me entre teus polos
Alvorecer em teu colo



O PASSAGEIRO DAS HORAS 

O Homem é consciência de si próprio.
Auto-caritativo, faz nascer do vazio que lhe cerca os fantasmas sagrados de um Deus humanado e de um Homem deificado. Tolamente, ignora, ou talvez apenas finja ignorar, que o vazio que lhe cerca e que lhe oprime é o deus a venerar, a beleza da sua humanidade, o sentido da sua hora, a poesia pungente da sua vida.


O Homem é o único mistério (teoriza outros para esquecer sua confusão e solitude). 
Caminha, tropeça, levanta-se. Resiste. 
Bêbado no eterno embate entre a aceitação dos fatos e sua negação.
Pergunta-se sem obter respostas e segue carregado pela grande miragem das horas.
No cimo da jornada, pranteia, saudoso do tempo ido, e mergulha outra vez no leito eterno, que é o nada.


Nasce só, vive só, morre só.


Escravo da sua inteligência,
Num golpe de autoengano,
Elabora respostas para seu enigma
Enquanto intoxica-se com todas as ilusões que inventa:
Amor, dinheiro, poder, religião, conhecimento...


Mas é simplesmente pó!


Olha-se no espelho e, comovido,
Relembra a paz do útero materno,
E o amor incondicional da tenra infância...
Sonhos passados, levados pelas vagas do tempo...


A íntima dor humana é a morte:
Pesadelo e angústia dos vivos 
Abismo que nos espreita, sorrateiro
Dor que confrange o peito
Hino que cantamos de cor
Fado inexorável


O medo da morte é uma paixão humana


A condição do Homem é um duplo:
Sopro de luz e treva
Padecimentos e delícias
Fugas e enfrentamentos


Acaso é a lei da vida
Acidente no percurso da matéria pelos espaços inauditos...



FRAGMENTOS POÉTICOS 

Quem ama esquece a vida
Refém da cruel desdita
A hora, o mundo, a lida
Esquece-as. Todas malditas...
Quem ama só lembra a ida
Ao Hades, resgatar Eurídice
Enquanto no mundo a ferida
Gangrena, que alguém lhe disse...
O amante só vê o vazio da cama
Entregue a seu sonho particular
Fazendo o mundo esperar
Até conquistar quem ama...
O amante enxerga o mundo em calma,
Sem contradições; nas teias da própria trama
Se enlaça; só ouve os lamentos d´alma
Atordoado com seu miserável drama...



FRAGMENTOS POÉTICOS 

A cólera do homem cairá

Cedo ou tarde sobre o homem

O sonho humano intervirá

Cedo ou tarde na história

Sonho e cólera, confundidos

No fim, homens para si

O homem matará o homem

O homem salvará o homem

Encetará outra história

Sem a mácula da lágrima dos inocentes

Proscreverá as lutas fratricidas

O novo homem a aflorar

O homem e seu sonho

Reviverão

A ira humana espreita

Entre o caos e a perfídia

Tremei homens-moeda

Rostos sem face

Urubus na nossa arte

Temei

Da história esta a nossa parte



FRAGMENTOS POÉTICOS 

Para qual esfera resvalou o instante,

Miragem fantasmagórica da consciência?

Vindo do nada que houvera antes

Urdindo o vazio da impermanência!



A fragílima contextura do agora,

Sombra informe, delirante, acuada

Quando irrompe, morre; implora,

Mas não poderá ser prolongada!



O momento é néctar e veneno

A vida, sensações em convulsão

Então, torna teu drama ameno

As coisas não foram, nem serão!



ANTI-HERÓI 

O anti-herói, inebriado de lânguida preguiça
Nauseado com a futilidade da lide ignominiosa
Permite-se não sucumbir à sina tão odiosa
E se espalha no leito e grunhe e se espreguiça...
Acorda, sem pôr-se de pé: é o peso da cotidiana azáfama
Mas que ninguém lhe vá discursar sobre o labor urgente
Que sonha ser filosofia e arte o nobre destino da gente
“Dinheiro pra quê ou poder?”, prefere as coisas diáfanas...
Mal reputado e falido, o anti-herói parece em paz!?!
Que de muito errado haveria com ele? Néscio? Louco?
Por que o tudo pra tantos pra ele é mísero e pouco?
Não está no script desdenhar assim de paradigmas assaz
Consagrados! Mas vejam: mãos dadas com o Zé Ninguém,
Meu Deus, parece-me ver a Verdade indo com ele também!



A DESCENDÊNCIA DE ADÃO (OS EXCLUÍDOS DO PARAÍSO)

Inspira o império dos sentidos, expira delírios
Sonha, pensa, age, teima ter nas mãos sua sina
Inda crê na sucessão da esfera telúrica a uma divina:
Remissão das culpas, compensação dos martírios
Abandona-se ao cio das prostitutas beleza e vitória
Sorvendo seus corpos e almas com insopitável luxúria
E violenta a verdade e a honra com beligerante fúria
Depois, brinda à morte com o sangue venal da glória
É libertino, mau-caráter, implacável, fereza bruta
Desde que o mundo é mundo e o homem, gente
Profusão de talentos, mas flagelo de cobiça ingente
É o crucificado também pregando o que ninguém escuta...
Psíquico, moral e genético mosaico de recônditas partes
Dia e noite confrontando-se em fatais fins de tarde...



É UM MECANISMO DE DEFESA HUMANO... 

A vida dói sobre os ombros
Pesa insuportavelmente sobre os sonhos, sufocando-os
Degenerando-os em pungentes exercícios de imaginação: o que teria sido e não foi...

Também as horas desfazem nossos corpos e mentes
Tornando-os horrendas caricaturas de si mesmos...

De lágrima em lágrima a dor e a decepção corroem nossa orgânica estrutura
A fé a perdemos ante o inexplicável do caminho
A calma, a dignidade as vendemos ao mercado pela subsistência ou por 15 minutos de fama...

Entretanto (é contraditório, é paradoxal, eu sei)
Cada centelha de tempo que se apaga
Cada suspiro que nos escapa aos lábios
Cada dor secreta que violenta nossa frágil alegria
Correspondem a um ânimo, a uma vibração que se vão acumulando em nossas asas imaginárias, sim, nas descomunais e vigorosas asas que nos inventamos
E assim, quanto mais o inferno puxa-nos para suas profundezas mais o céu abre-se para nós como nossa verdadeira moradia


É um mecanismo de defesa humano...


Cada vez que a vida apunhala-nos no peito e o tempo sufoca-nos a garganta e o mundo ata-nos os membros 
Simplesmente renascemos, ressurgimos maiores, melhores, mais gloriosos
Abrimos nossas asas e planamos feito águias
Feito anjos: exatos, puros, incólumes
Mais distantes da mediocridade terrenal
E assim vencemos a dor, o cansaço, a doença
Como uma mágica de cunho filosófico, existencial; uma mágica simples e perfeita; se preferir, pode chamar de a maior alquimia humana, que transforma raiva, medo, frustração em arte, renovação, solidariedade

Quanto mais a vida quer dobrar-nos no chão
Mais alto, mais longe alçamos voos na amplidão


É um mecanismo de defesa humano...



FÉ! 

Qualquer coisa sobrevirá a nós
O que é, esvaecerá (terá sido?)
Dos silêncios atemporais à voz
Da consciência, daí ao desconhecido...
Qualquer nascente descansa em foz
Indo, o rio consome, é consumido
As civilizações estão sempre a sós
Plantando o que outras terão colhido
Mas alguma coisa humana quedará
Inoculada nas trilhas do Tempo-Espaço
(como o solo, que marca a força do passo)
O que será? A fé! Que percorrerá
Múltiplos e amplos nadas do universo
A arrebatar-lhes o tudo submerso!



A PAZ 

Sereníssima imagem da justiça e candura.
Anjo adorado que sob suas cálidas asas 
Dar-nos-ia abrigo e desfaria as mágoas,
Dirimindo a vontade cruel e mais dura.
Perseguida, porém, agoniza em sua cela,
Por escravos do ouro e da guerra golpeada.
E os Arautos do Apocalipse, em cavalgada
Avançando contra a ideia humana mais bela.
Cordeiro humilhado, arrastado à cruz
Por implacáveis soldados da morte: panteras
De sépticas garras, que infeccionam as eras,
Erguendo urbes sem alma e templos sem luz.
Trabalho de Sísifo, das Danaides.
Paixão volúvel, fantasia romanesca.
Fruta que estragou antes de fresca
No estéril jardim da Humanidade!



ENTRE OS OPOSTOS EXISTE UM ELO...

Entre os opostos existe um elo:
Ímã pondo a convergir suas essências
E um recíproco e apaixonado anelo:
Entre si exaurir suas potências
Mas entre eles também existe o regelo
Da dessemelhança, cego às mutuas querenças
Um insubsistente e sempre olvidado zelo
Refém de ódios erguidos de ignorantes crenças
Já entre os iguais cristaliza-se o flagelo
De tabus imemoriais, empedernidos:
Resquícios de tempos já consumidos
Mas entre eles também resplende o belo
Fundamentado na glória dos ideais atingidos
E numa paz perpétua, sem vencedor ou vencidos



E P I T Á F I O 

Os últimos suspiros de uma era!
Tudo é sombrio, ainda amalgamado
Mas, um pútrido odor na atmosfera
Nos dá a antever o triste fado...
Já caduco, o paradigma degenera
Demora, mas se exauri; tombará calado
Como o velho, sabendo o que o espera:
O inexorável instante, sempre evitado...
A evolução impõe sua lógica; é fera
Cuja fome tão cedo se terá saciado.
Sua vítima, o humano, desespera...
“E a consciência, seu ideal tão elevado?”
Pudéssemos permanecer... Ó quem dera!
Mas, vestígios de um império soçobrado...



NORMINHA
(para minha mãe)

Nossos momentos: suaves encantos, com tua presença
Acolhidos em ti, revigoramos na beatífica luz dos teus círios
És rara: a que transfigura em sonhos duradouros martírios
Fortalece o corpo e a alma e ajuda a debelar a doença
Difícil nos é decantar tuas virtudes condignamente
Já a Graça Divina, de forma cabal o fará, no infinito
Porque és discípula fiel daquele que fez do amor o seu grito
Com Ele tendo o bem aprendido, que fazes silenciosamente
Tua suavidade é fortaleza e teu silêncio, congraçamento
A empatia te guia na heroica missão das almas caritativas:
Adentrar as celas em que as pessoas padecem cativas
e, como um Héracles a libertar Prometeu, dar-lhes alento
Erguer-se como diante do mundo sem tua coragem
Que nos sustenta com profundas lições de fé e amor?
Não é o elixir das tuas palavras, ensinando o destemor,
Que nos tem salvaguardado nas intempéries desta viagem?
Nosso anjo da guarda! Cálida morada de luz e ternura!
Perenal sol que nos impõe continuar florescendo,
Cujo calor impede nosso ânimo de ir decrescendo
E nos levanta para desafiar e vencer a amargura!



FRAGMENTOS POÉTICOS


sim, meus amigos
é verdade
cansei-me de mim
cansei-me de mim
irremediavelmente

também, se me permitis
cansei-me de vós
daquelas cenas banais
que representávamos
cotidiana e desafortunadamente

sim, meus amigos
cansei-me de vós
irremediavelmente

decrépita a antiga face
cegos os velhos olhos
muda a boca senil
superados os temas da remota personagem
sepulto-os num cemitério de memórias

a exaustão também chegou às vossas partes
cenas que cumpristes sempre diligentemente
e que cumpris ainda
mortificados

de quando em quando
mundo, gente, é urgente sermos outros
viver a mesma vida cansa
mudança é a constante na matemática do tempo

o que me é posto agora é renascer
profundo mistério
e sentido da nossa natureza

do pó ressurjo, mitológico
avançando no curso ontológico
desse rio

A MORTE
Eterna como o Tempo, a Morte
Aguarda, mas não tem pressa.
Degustando a doce infinidade,
A lida é sua distração, que faz sem maldade,
Posto que nas leis do universo impressa.

Revolucionária ideia do Criador, a Morte
Tem fome; serena, mas sempre atenta...
Opera entre os tempos – presente, passado, futuro;
Ela é o éter invisível e o golpe duro
Que a todo nosso destino orienta.

Disputa com o Acaso, ciumentamente,
Do universo o posto de melhor operário.
Juntos vão transformando tudo, o mundo -
Em um milhão de anos ou num segundo,
Num turbilhão renovador e sanguinário.

Com ouvidos aqui e alhures, a Morte
Tudo sabe – é vital a informação perfeita
Para sorrateiramente executar sua lida.
Sua obra-prima é nos arrancar a vida.
Cumpre a missão a qual foi por Deus eleita.

Com olhos onipresentemente, a Morte
Nos vê a todos – e quando vê, deseja.
Também a vi, de relance, no espelho; aí eu soube:
Esse simulacro de vida foi o que me coube...
Agora é tarde. Deus, perdão! Que assim seja!

SERVIDÃO!


Existo?
Existo conscientemente?

Sou verdadeiramente consequência da minha vontade?
Ou sou a sombra, o reflexo de uma outra coisa?
Ou sou a vontade de uma outra coisa?

Sinto que algo perpassa minha existência, existindo em mim, sem ser eu mesmo
Este algo alimenta-se de mim, como um parasita
Este algo me tem, mas eu não o tenho, nem sei sobre ele
E se este algo me deixa acreditar que existo, que tenho consciência, isto é, que faço escolhas, que quero isto, não quero aquilo, que amo este e odeio aquele, que concordo com isto e discordo daquilo, que sou filosoficamente livre?
Que algo seria este?

Escrevo esta reflexão porque quero?
Fui eu quem decidiu fazê-lo, realmente? Ou miríade de fatores misturam-se para que, enfim, eu sentisse esta reflexão, eu pensasse esta reflexão, eu fizesse esta reflexão?
Mas sou eu mesmo o seu autor?

Escrevo, leio, vivo, amo, mato, morro, porque quero, ou querem por mim, porque decido, ou decidem por mim? Mas quem quer por mim, quem decide por mim?
O que quer de mim, tal demônio?

Talvez eu seja uma simples fachada, veú encobrindo o verdadeiro espetáculo, onde tudo se dá, onde todas as decisões são efetivamente tomadas...
A abscôndita realidade do mundo...
A abscôndita verdade dos fatos...

E se a verdade estiver para além de mim mesmo, da máscara do meu rosto, da capa perecível do meu corpo, e se estiver mesmo além das elucubrações da minha mente, que se julgava livre e autônoma para pensar e refletir, mas que, na verdade, não é?

Há algo de errado...
O quê?
Aonde?

Uma fissura no bloco monolítico da Grande Mentira (a Vida), da Grande Ilusão (a Consciência), deixa escapar a verdade última das coisas, terrível verdade:
há sérias dúvidas sobre sermos livres, autônomos, auto-determinados

Minhas escolhas refletem o livre-arbítrio da minha ética pessoal?
E se as minhas escolhas, todas elas, todas elas, apenas refletirem a bioquímica cerebral, e nunca meus cálculos racionais, meus sentimentos mais profundos, que são meus desejos e minhas aspirações?

E se eu não sentir o que sinto?
E se eu não pensar o que penso?
E se eu não existir autonomamente?

E se não sentirmos o que sentimos?
E se não pensarmos o que pensamos?
E se não existirmos autonomamente?

E se o livre-arbítrio for a mais cara ilusão do Homem?

O Homem, que já se achou o centro do universo...
O Homem, que já se pensou filho dileto de um Deus criador do universo...
O Homem, que já se acreditou livre e auto-determinado, senhor de si...

Quão tolo pode ser o Homem...

Assim, a liberdade não é mais que um sofisma
Em nossa essência há um escravo resignado com sua condição vegetativa e que inventa belas histórias para si mesmo na tentativa desesperada de tornar sua obscura existência menos sombria e miserável...

Mas a verdade é que um totalitarismo invisível nos governa a todos
e semeia em nossas mentes a falaciosa idéia de que somos livres
Mas não somos!

O que sou?
Animal-máquina sem alma, passível de programação e condicionamento, escravizado por laços que eu próprio desconheço, mero fantoche, autômato, títere, sempre a consequência e nunca a causa?

Mas consequência de que causa?
A química cerebral?
As atividades neurônicas?
O intercâmbio entre sinapses nervosas?

Agora, façamos um exercício lógico: se não decidi, autônoma e conscientemente, ser o que sou, quem eu sou, é razoável pensar que ser mudarmos tal ou qual variável (que obviamente não conheço, muito menos controlo) eu seria outro totalmente diverso de mim mesmo, poderia ser tudo o que não sou, sentir tudo o que não sinto, pensar tudo o que não penso, se apenas mudassem estas tais e quais variáveis... O CAOS! Mudanças infinitesimais gerando complexidades crescentes, até outros Big-Bangs...

Se eu poderia ser outro qualquer, e outro qualquer poderia ser o que sou, eu não sou eu, nem este outro qualquer é ele

Concluindo
Tudo que existe é arbítrio, condicionamento, escravidão

Assim, meus enganados, iludidos, traídos leitores, nada escolhemos
Somos uma completa fraude; cada um e todos nós
O que somos é pura química, pura biologia, animais sem alma e sem vontade própria
Não existe escolha. Só destino
Não existe escolha. SÓ SERVIDÃO!


A MARIANE, DEUSA DA LIBERDADE
(inspirado na tela “A Liberdade conduzindo o povo”, de Eugene Delacroix)


Contra variados óbices inimigos, Mariane avança
Intimorata, desponta onde a peleja é fremente
Mas não há ferro que fira, voragem que enfrente
Seu olhar resoluto, seu braço cheio de pujança

Pressente que o perigo lhe espreita, e passa rente
Pois se esquiva do golpe, ágil, vívida de esperança
É a mais sublime sua missão; sabe e não descansa
É o último baluarte quanto tudo parece ser poente

Ostentando o lábaro, quando o risco é iminente!
(Quer ser o exemplo: valiosa e inolvidável herança)
Empunhando inoxidável lança, por amor à gente!

(...)

Depois, volve aos Céus, com a pureza de uma criança
Emergindo ao olhar a ternura que o coração sente
Semeando a paz com estes olhos que a tudo alcança

QUATRO VISÕES SOBRE A VIDA

1)

A
A V
A VI
A VID
A VIDA
A VIDA É
A VIDA É L
A VIDA É LI
A VIDA É LID
A VIDA É LIDA

2)

A VIDA É VAZIA!
A VIDA É VAZIA
A VIDA É VAZI
A VIDA É VAZ
A VIDA É VA
A VIDA É V
A VIDA É
A VIDA
A VID
A VI
A V
A
-

3)

A                               
A V                      
A VI
A VID
A VIDA
A VIDA É
A VIDA É V
A VIDA É VA
A VIDA É VAD
A VIDA É VADI
A VIDA É VADIA
A VIDA É VADIA!


4)

A VIDA É VIRTUAL
A VIDA É VIRTUA
A VIDA É VIRTU
A VIDA É VIRT
A VIDA É VIR
A VIDA É VI
A VIDA É V
A VIDA É
A VIDA
A VID
A VI
A V
A
-

POEMATRIZ - I
(ou PROGRESSÃO)


Minha mente é um software contaminado
Minha mente é um software contaminadp
Minha mente é um software contaminaep
Minha mente é um software contaminbep
Minha mente é um software contamiobep
Minha mente é um software contamjobep
Minha mente é um software contanjobep
Minha mente é um software contbnjobep
Minha mente é um software cooubnjobep
Minha mente é um software cpoubnjobep
Minha mente é um software dpoubnjobep
Minha mente é um softwarf dpoubnjobep
Minha mente é um softwasf dpoubnjobep
Minha mente é um softwbsf dpoubnjobep
Minha mente é um softybsf dpoubnjobep
Minha mente é um sofuybsf dpoubnjobep
Minha mente é um soguybsf dpoubnjobep
Minha mente é um spguybsf dpoubnjobep
Minha mente é um tpguybsf dpoubnjobep
Minha mente é un tpguybsf dpoubnjobep
Minha mente é vn tpguybsf dpoubnjobep
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Mioib nfouf f vn tpguybsf dpoubnjobep
Mjoib nfouf f vn tpguybsf dpoubnjobep
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POEMATRIZ - II


O SENTIDO POSSÍVEL É AQUELE...

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...QUE EMPRESTAMOS À VIDA COTIDIANAMENTE


POEMA CIENTÍFICO

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PARA AMÉRICO BARREIRA
Verbo impávido, ávido de vida
Grávido de vívida esperança
Hígida alma de criança,
Mas braço e lide de guerreiro!

Veia cálida, confundida
À história. Veia lança
A semente da vitória: crê
Num homem por inteiro!

A pujança do guerreiro:
Cultivar irresistível crença –
Que o sonho a realidade vença!

O legado do guerreiro:
A vida na sua plenitude intensa –
Esse sonho, essa verdade imensa!

PARA CAROLINA NANAN (E ALESSANDRA ALENCAR)
Tenho uma irmã (aliás, duas) que é guerreira
Enfrenta as procelas da vida com sorriso aberto
Não teme nada – o perigoso, o difícil, o incerto
Domando o alazão Vida como amazona altaneira
Tenho uma irmã (aliás, duas) que transborda galhardia
Em Deus, no Homem, em si mesma cultiva fé inabalável
Enquanto outros se curvam e se calam ante o indefensável
É doce promessa de um novo e resplandecente dia
Tenho uma irmã (aliás, duas) brava e valente
No turbilhão se mantém calma, para o certeiro foco inferir
Por todas e tantas conquistas é honoris causa em existir
Enfrenta os Elementos, os maus elementos, de frente

Tenho uma irmã (aliás, duas) que transborda fortaleza
Se o chão se abre e tudo afunda, ela, como o Desperto, flutua
No palco da vida, com amor, coragem e esperança atua

Revolucionando o mundo com paixões, ideais, delicadeza