terça-feira, 14 de julho de 2015

INVENTAR, por Tádzio Nanan


Inventar a vida, com intrepidez e criatividade
Para aliviar o peso do passar das horas na consciência.
Inventar a verdade com as mentiras da religião, da ciência,
Para a dúvida não nos furtar a tranquilidade.

Inventar deus, na aflitiva busca por sentido,
Para que tudo seja explicado, e o caos aplacado.
Inventar cristo, inventar o amor, inventar o cuidado
Para o coração selvagem chorar, condoído.

Inventar o livre-arbítrio para se destacar à natureza:
O sonho da autodeterminação, da vontade soberana.
Inventar a razão para se opor à percepção que engana;
Para que a chama do progresso continue acesa.

Inventar a utopia para alimentar a crença no futuro,
Para manter os homens unidos pelo ideal da salvação.
Inventar a paz para conflitos que nunca terão solução;
Inventar a sabedoria para se opor ao nosso lado escuro.

Inventar a civilização para que um por cento de nós enriqueça.
Inventar a normalidade para a maioria sossegadamente oprimir.
Inventar a felicidade pra gente casar, ter filho, laborar, consumir.
Inventar a esperança para que o desespero jamais prevaleça.

domingo, 5 de julho de 2015

ANTAGONISMOS(?), por Tádzio Nanan


O sonho alimenta a alma; com as cores da esperança pincela o futuro. O braço alimenta o corpo; de sol a sol, edifica o presente.
A razão segue decifrando o sentido das coisas. Já a emoção inventa outros sentidos: Deus, utopia, felicidade, arte, superação; ideias que nos mantêm ativos e resilientes.
O sábio em mim -estranhamente- não quer traduzir o Mistério, quer suavemente deslizar em suas ondas; o tolo em mim, ingênuo passageiro das horas, andarilho sem destino, anseia o riso fácil, a conversa despretensiosa, o existir sem regras ou resultados; não quer saber do Mistério: quer cama e mesa.
O instinto recorda-me de meus pressupostos biológicos, do sistema operacional que faz rodar minha máquina orgânica; já a cultura em mim é o refinamento do projeto humano, imaginado por nosso coração oceânico e nossa inteligência infatigável.
O ego em mim sou eu centro do universo, alienado em minha dor e alegria, concentrando tudo em si: black hole sentimental e pensante. O desapego em mim é a gente do mundo pulsando em meu peito, povoando minha mente; é o Nazareno a convocar-me para a revolucionária missão do Amor.
O corpo: ponte e abismo; encontro e saudade. A alma: sonho(vão?) de perfeição moral na Terra e bem-aventurança no Céu.