Enfim, eu e a vida assinamos o tão esperado armistício, após décadas de visceral estranhamento, de incompreensão e ressentimentos recíprocos. Agora, seguimos na mesma direção (até uma nova encruzilhada fazer com que optemos, outra vez, por caminhos diversos...). Ambos nos transformamos, evoluímos, aprendemos a ceder para saudavelmente conviver, mas sempre mantendo nossas identidades profundas. Restabelecida a parceria, caminhamos nesta promissora estrada rumo ao futuro. Agora a vida é uma força benigna, que me impele adiante. Eu também me tornei uma força benigna na vida, e cultivo a generosidade com ações e palavras.
Antes, eu e a vida estivemos, quase sempre, em desacordo. Eu era arrogante, vaidoso, imaturo; ela era exígua, mesquinha, cruel. Tentávamos nos impor, nos sobrepor um ao outro. Eu não a compreendia bem, esperava dela coisas que ela não me podia oferecer; ela alimentava preconceitos e desconfianças em relação a mim, injustamente. Isto ocorreu porque temos convicções fortemente arraigadas, e muitas delas não se coadunam, na verdade, se chocam, irradiando energia potencialmente devastadora, energia esta que eu soube inteligentemente canalizar para fins profícuos e benfazejos.
Vivenciando tanto tempo este conflito acabei aprendendo algo importante, embora contraintuitivo: nem sempre estar em oposição à vida significa murchar ou padecer. Às vezes, ocorre o inverso: nesse embate existencial entre a personalidade de um e a realidade de todos, mergulhamos mais fundo em nós mesmos para descobrirmos quem realmente somos, o que realmente queremos, o quanto podemos; rompemos com estruturas petrificadas, superamos pensamentos antiquados; inconformados, imaginamos novas formas de estar no mundo; acostumamo-nos à condições de vida mais austeras; tornamo-nos mais sensíveis às revoluções que acontecem em nosso íntimo e àquelas que acontecem ao nosso redor. Foi quando estive em oposição à vida que me inventei os sonhos mais lindos e sempre em oposição à vida os mimei e alimentei para agora os ver frutificar, cheios de glória.
Às vezes, estar em demasiada sintonia com a vida, receber suas bênçãos e afagos, pode nos desviar do caminho almejado, corromper nossos ideais, amolecer nossos músculos, enfraquecer nosso caráter, pode fazer com que fiquemos satisfeitos demais, sossegados demais, apaziguados demais, quando o assombro, a dúvida, o desassossego são peças fundamentais para a tarefa de produzirmos nossa história tal como realmente a queremos (e é fundamental que o façamos)!
sexta-feira, 29 de maio de 2015
domingo, 10 de maio de 2015
CALMARIA, por Tádzio Nanan
Inesperada -e bem-vinda- calmaria...
Já quase esqueço das tempestades que me fizeram companhia anos a fio e alimentaram cotidianamente meu desassossego.
Estranhas sensações florescem em mim agora: apaziguamento, entendimento, satisfação! Eu que tenho vivido limitado às ruínas de um conflito emocional que semeou confusão e perplexidade em minha vida.
Súbito, as tormentosas vagas da dúvida desembocam num plácido lago, e minha alma se serena. Antigas feridas cicatrizam. Longevas dores são aposentadas. Meus pensamentos amanhecem, iluminam-se. Meus olhos voltam a mirar o céu, esperançosamente.
É uma paz selada entre minhas facções. Aquele embate íntimo perde sentido, é esvaziado em suas causas, não encontra mais razão de existir. Como se finalmente eu me conquistasse por inteiro, fincasse bandeira em cada parte do meu ser, dominasse meus demônios, expulsasse para longe os odiosos exércitos da minha metade negra, do meu anjo contrário.
As fantasmagóricas sombras do passado não me amedrontam mais. Pus o passado no limbo da memória, enterrei-o em auspiciosa e festiva cerimônia. Agora só cultivo as boas lembranças, que me impelem ao futuro. Por muito tempo o passado regeu minha existência, me torturou, me prolongou as noites, mas agora ele não me alcança, o que o fez definhar, pois não se nutre mais da minha alma, da minha carne, do meu sangue.
Devido a esta revolução pessoal (o advento da supracitada calmaria), não me reconheço mais nas palavras dantes escritas, ou nos sonhos de outrora. Aquela personagem desapareceu na cinza das horas, submergiu no mar do tempo, perdeu-se na insignificância das coisas superadas. Tornei-me outro, renasci. Transfiguração repentina mas profunda. Irreversível?
Agora, o mundo se revela -encantador e instigante- ante meus olhos... Quantas formas, cores, sons, caminhos, possibilidades! Ele sempre esteve lá, mas as brumas da dor e do medo o escondiam de mim -e pensar que quase me resignei, quase o renunciei!
Beleza insuperável: o despertar de longa, exaustiva e invernal ausência...
Já quase esqueço das tempestades que me fizeram companhia anos a fio e alimentaram cotidianamente meu desassossego.
Estranhas sensações florescem em mim agora: apaziguamento, entendimento, satisfação! Eu que tenho vivido limitado às ruínas de um conflito emocional que semeou confusão e perplexidade em minha vida.
Súbito, as tormentosas vagas da dúvida desembocam num plácido lago, e minha alma se serena. Antigas feridas cicatrizam. Longevas dores são aposentadas. Meus pensamentos amanhecem, iluminam-se. Meus olhos voltam a mirar o céu, esperançosamente.
É uma paz selada entre minhas facções. Aquele embate íntimo perde sentido, é esvaziado em suas causas, não encontra mais razão de existir. Como se finalmente eu me conquistasse por inteiro, fincasse bandeira em cada parte do meu ser, dominasse meus demônios, expulsasse para longe os odiosos exércitos da minha metade negra, do meu anjo contrário.
As fantasmagóricas sombras do passado não me amedrontam mais. Pus o passado no limbo da memória, enterrei-o em auspiciosa e festiva cerimônia. Agora só cultivo as boas lembranças, que me impelem ao futuro. Por muito tempo o passado regeu minha existência, me torturou, me prolongou as noites, mas agora ele não me alcança, o que o fez definhar, pois não se nutre mais da minha alma, da minha carne, do meu sangue.
Devido a esta revolução pessoal (o advento da supracitada calmaria), não me reconheço mais nas palavras dantes escritas, ou nos sonhos de outrora. Aquela personagem desapareceu na cinza das horas, submergiu no mar do tempo, perdeu-se na insignificância das coisas superadas. Tornei-me outro, renasci. Transfiguração repentina mas profunda. Irreversível?
Agora, o mundo se revela -encantador e instigante- ante meus olhos... Quantas formas, cores, sons, caminhos, possibilidades! Ele sempre esteve lá, mas as brumas da dor e do medo o escondiam de mim -e pensar que quase me resignei, quase o renunciei!
Beleza insuperável: o despertar de longa, exaustiva e invernal ausência...
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