segunda-feira, 18 de abril de 2016

PEQUENO HOMEM FURIOSO, por tádzio nanan


O pequeno homem furioso toma as ruas, braço erguido, vociferando palavras de ordem.
É incapaz de dialogar com aqueles que eventualmente dele discordem.

O pequeno homem furioso recita o livro venerado, sem questionamento.
Não conhece, nem concede a ninguém, liberdade de pensamento.

O pequeno homem furioso e suas verdades imutáveis e sagradas.
Ele não sabe que suas verdades caducaram, ultrapassadas?

O pequeno homem furioso, com certezas infundadas cimentou sua mente.
Que importa se a realidade e as certezas que possui se excluem mutuamente?

O pequeno homem furioso cumpre as diretrizes do partido, sem hesitação.
Um autômato combatendo a alienação... Contradição?

O pequeno homem furioso é incapaz de existir individualmente.
Quer ser parte indistinguível do todo, ser gado e não gente.

O pequeno homem furioso é incapaz de existir como parte de uma coletividade.
Sonha com destacar-se dos demais - quer privilégios, não quer igualdade.

O pequeno homem furioso se vende inescrupulosamente ao poder, ao dinheiro.
Que importa se se afunda no caos o mundo inteiro?

O pequeno homem furioso, arauto de deus, paladino da família, baluarte da tradição.
Até quando se associará a esta medieval e simplória idealização?

O pequeno homem furioso, portador das verdades derradeiras, dita regras e vereditos.
Não reconhece a verdade dos outros, nem ouve suas súplicas, seus gritos.

O pequeno homem furioso reproduz o status quo, cegamente.
Bonifrate manipulado por cordéis que ele sequer pressente...

O pequeno homem furioso prega vanguardas, utopias, revoluções.
Semelhante àqueles que creem em milagres, transcendências, revelações...

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