sexta-feira, 31 de outubro de 2014

DUALIDADE, por Tádzio Nanan

Se a perspectiva é a eternidade, somos insignificantes.
Se a perspectiva é o instante, somos gigantes!
Se a perspectiva é o infinito, somos tão pequenos.
Se a perspectiva é o gesto, somos tão plenos!
Tádzio Nanan

Sou precioso:
O olhar transbordando desejo
O gesto expressando empatia
O sorriso difundindo a esperança
A palavra comunicando a saudade
Minha dor me faz mais humano
O esforço que me torna útil
O sonho que me faz singular
A espiritualidade me lança além de mim mesmo, além do aqui e agora
Posso imaginar tudo o que virá pela frente
Os universos prolongam-se na minha mente
Sou rei de um império interior, mais rico que o mais abastado dos homens
A natureza – minha mãe, gestou-me por bilhões de anos (você sabe tudo o que teve de ocorrer para estarmos aqui, agora?)
Tenho a faculdade de ser feliz e fazer felizes os outros
Vou morrer para a eternidade e o infinito

*

E sou insignificante:
O coração partido
A consciência solitária
Num corpo que se vai dissolvendo...
Insignificante: uma dentre sete bilhões de paixões humanas, ardendo no próprio fogo, num pequeno planeta que gira ao redor de uma estrela, que se assemelha a centenas de bilhões de outras estrelas da Via Láctea, que é uma dentre centenas de bilhões de galáxias que existem em nosso universo, que é apenas um dos muitos universos existentes e que compõe um multiverso inaudito, a bailar pela eternidade...
Entretanto, ser insignificante me deixa tão leve, permito-me errar, sem maiores dramas, e perdoo o erro alheio de forma mais frequente e tranquila; deixa-me mais ousado, vejo as coisas por diferentes prismas, experimento-as de outras maneiras; liberta-me da vaidade, do egoísmo, do medo, da posse; ensina-me o segredo da vida: viver no limite do que se acredita, e não esperar nada em troca; faz-me gargalhar com mais frequência; faz-me duvidar e rebelar-me mais amiúde; faz-me mais profeta e poeta e pateta; faz-me ver que o pouco que tenho é mais que o suficiente; dá-me sentidos extremamente aguçados; dá-me pensamentos não enviesados pelo poder, pelo dinheiro, pelo ódio, pela dor.
Sou tão pequeno, mas tenho infinitos mundos em mim!
Preciosamente insignificante!
Insignificantemente precioso!

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