sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MEU CAMINHO, por Tádzio Nanan

Madrugar, trabalhar, jantar, dormir; não, não é o meu caminho!
Casar, família, filhos, lar; não, não é o meu caminho!
O caminho habitual, o consagrado caminho do homem de bem... Não é para mim; sou caótico e complexo demais para ele, eu o transbordo, ele me reprime.
Será meu caminho, então, um descaminho (há uma miríade deles)? Dificilmente... Sou muito medroso; sou meio dado a loucuras, mas tenho forte instinto de autopreservação.
Será meu caminho o abismo, ou seja, a completa ausência de caminho, o fim prematuro, ou mesmo o fim autoinfligido?
Ou pode ser que meu caminho exista por aí, confundindo outros transeuntes, outras almas perdidas, e eu devo apenas procurá-lo com mais afinco. Sair mais por aí a ver se as coisas me indicam o caminho, a ver se as pessoas me indicam o caminho. Mas tenho medo das coisas e desconfio das pessoas...
Pode ser que um caminho a mim endereçado não exista ainda e eu tenha que criá-lo, abri-lo a golpes de facão na selva da civilização, ou pintá-lo surrealistamente com as asas da minha imaginação feérica e nele cair vertiginosamente e lá viver para sempre.
Enquanto o caminho não surge neste deserto em que me encontro (quando surja, espero que não seja miragem), sigo errando delirantemente por mundos e dimensões paralelas, misturando loucura e sabedoria e fazendo arte desse exótico encontro.
Sigo orbitando à minha própria volta – como se eu fosse o planeta e a estrela; sigo atraindo-me a mim mesmo, como um buraco negro que se engole e se extermina.
Mas sei de uma coisa: meu caminho sou eu!
Talvez, como obra inacabada que sou, não mereça (ainda) um caminho (um órfão de caminho!).
Talvez, Deus esteja esperando que eu me decifre para apontar-me o caminho.
Mas, e se for isso mesmo: se eu precisar decifrar-me?
Decifrar-se? Poderá alguém?
A mim é muito difícil. Por isso meus pais abandonaram-me, por isso meus irmãos abandonaram-me, por isso meus amigos abandonaram-me, por isso as forças cósmicas esvaíram-se de mim: eles nunca puderam entender-me e isso os assustou e os levou para longe.
E com razão:
Sou Eros e sou Tânato
Sou Prometeu e Epimeteu
Sou Diógenes e Alexandre
Sou Hitler e o Nazareno
A dualidade encarnada!
Também sei de outra coisa: o caminho dos outros não sigo, não me interessa. Teimosia? Sim! Não sigo, não me interessa!
Ou o meu caminho ou nada!
Ou meus passos marcados em terra virgem, ou nada!
Não sou dublê de corpo, não sou dublê de alma!
Sou igual a todo mundo, mas tenho meus tamanhos infinitos! Eu não caibo nos outros, os outros não cabem em mim!

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