quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A VIDA FAMILIAR DE JP

As primeiras aventuras sexuais de JP ainda são flashes vivos reluzindo em seus voluptuosos olhinhos (molhados de concupiscência, como gostava de dizer um antigo “affair”), tão nítidos e envolventes quanto uma projeção no escurinho do cinema (e não é um cinema particular a tela da memória onde passamos a trama acre-doce das nossas vidas?): impúbere ainda assistia as tias saracoteando, seminuas, ancas e bundas e peitos balouçando impunemente, exibindo-se umas pras outras, pra si mesmas, na frente do espelho, e também pra ele, expectador privilegiado, que quietinho ali no canto do quarto, mudo e excitado, se lançava àquele novo universo com todas as fibras do seu ser, enquanto as loucas ninfômanas lhe faziam caretas, acariciavam-se, apaixonadas por si mesmas, e morriam de delícias, enlevadas com a situação (inadequada para a moral conservadora da maioria das famílias, mas não para a sua, covil de anarquistas, adictos e porras-loucas); e se mostravam a ele costumeiramente ao trocarem as roupas íntimas ou quando saíam do banho da tarde ou ainda ao abaixarem a calcinha no bidê, revelando-lhe aquele objeto do desejo de meia humanidade.
Se com as despudoradas tias fora apresentado à anatomia feminina, suas reentrâncias, saliências, círculos e triângulos imperfeitos, com as primas mais velhas, já cheias de sinuosos relevos, e também com as tabulares e curiosas priminhas da sua idade ele pode sentir os ígneos prazeres dos primeiros toques, carícias, apalpadelas; da esfregação das partes baixas umas nas outras; dos suspirares nos cantos de parede e pelas madrugadas, em camas compartilhadas (quando montavam uns nos outros como se treinassem o ato reprodutivo); dos lascivos odores e líquidos corporais a se espraiar... Desde aí pode mostrar a qualidade do seu estro e a paixão ruidosa, ardente e incontrolável que nutriria pela fêmea da espécie humana pelo resto da sua longa, impudente e imprudente vida.
Essas lembranças vivas desassossegam o coração do jovem garanhão até hoje. Ainda que tudo tenha se passado há bastante tempo (e com tantas mulheres experimentadas ao longo da sua viril juventude) ele ainda sonha com as curvilíneas e gastronômicas priminhas, hoje a transluzir o viço e a galhardia dos vinte e poucos anos; sonha com mostrar-lhes a expertise adquirida (como mudou desde aquela pré-adolescência confusa, tímida, franzina...). Nele ficou cravado, parece-lhe que indelevelmente, um desejo incoercível, uma tensão no ar (“o ronronar das antenas invisíveis” de que fala o poeta), uma fascinação por cada uma daquelas personagens do seu lúbrico passado. Sim, sempre se lembrava delas, teso, afogueado, bem como das joviais amiguinhas que amiúde as acompanhavam, meninotas com seus 11, 12 anos, outras, mocinhas beirando os 14, 15, as primeiras fêmeas da espécie a devassar-lhe a nudez e a admirar seu órgão sexual excitado! Como era bom tomar banho com elas, naquelas tardes de férias, voltando das praias, nas casas alugadas pela família, quando a turma toda se reunia; vê-las investigando a própria nudez com espelhos, ou brincando brincadeiras adultas, quando mostravam suas intimidades uns aos outros... Era um êxtase lembrar-se dos corpos nus, debaixo do chuveiro, o seu, ficando maior, mais espesso, ano a ano, os delas mudando as formas, os volumes, dando a antever as mulheres graciosamente desenhadas pelo lápis do divino prestes a sair daquele envoltório ainda mirrado e simplório. Anos passaram-se assim! Gloriosos e saborosos anos, anos imortais! Dos 9 aos 14, ele esbaldou-se nessa orgia sem pecado, nessa libidinagem sem conseqüências....
(continua)



João Paulo B. O.

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