domingo, 31 de janeiro de 2016

A PEQUENA VIDA, por tádzio nanan


A vida arrancou-me de mim, como um jardineiro insensato que extirpa do jardim a flor mais bela.

A vida subtraiu-me de mim, como um torturador que se apossa da alma de sua vítima, inoculando nela o vírus mortal do desespero.

Fraturado, perdido de mim, vago fantasmagoricamente através das horas, sem rosto, passado ou futuro, corpo sem alma, anjo caído, sonho vencido.

A vida, a pequena vida, vampirizou minha existência. Sugou o meu melhor: minha faculdade de imaginar e produzir o novo. Com as bestiais presas, sorveu minha força vital produzindo mais um soldado para seu exército de bestas-feras, autômatos e dementes.

Os tortuosos caminhos da vida me levaram para longe de mim, de minha chama, de minhas virtudes, de minha essência; levaram-me para longe de onde eu queria estar, enraizar, frutificar e frondosamente existir.

A vida, a pequena vida, arrancou de mim minhas possibilidades, meu porvir. No vácuo que se abriu plantou suas acanhadas certezas, as mediocridades e os cataclismos que lhe são peculiares. Eu que era espírito, e não carne; luz, e não sombra; sonho, e não ambição; brisa, e não ventania; flor, e não pedra; afago, e não golpe. Eu que era todo rima, melodia, hoje sou contabilista de tristezas, guardador de desilusões.

Eu morri da vida e suas urgências, contradições, constrangimentos, perseguições. A vida triunfou sobre mim, a pequena vida, a vida-clichê, a vida tornada dogma, a vida que todo mundo espera de cada um.

E cá estou eu parindo simulacros de mim mesmo.

Ai que saudades eu tenho de mim, do que eu era.



quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

MELHORES FILMES VISTOS EM JANEIRO DE 2016, por tádzio nanan

Furyo – em nome da honra (Nagisa Oshima)

Zelig (Woody Allen)

Tiros na Broadway (Woody Allen)

Sócrates (Roberto Rossellini)

Batismo de sangue (Helvécio Ratton)

Um dia muito especial (Ettore Scola)

Perdido em Marte (Ridley Scott)

Corrente do mal (David Robert Mitchell)