quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O GATO IAN. NÃAO... IAN, O GATO!, por Tádzio Nanan







Gato gaiato
Que me faz rir
Nesse insensato
Ir e vir

Seu chacoalhar o rabo
- Cuidado! 
É prenúncio de ventania...
Enfrentá-lo ali, quem ousaria?

Às vezes, tranquilo, apaziguado
Deita e assiste o tempo passar
Sonhando com o próximo telhado
E as felinas que vai namorar

Dado a traquinagens e valentias...
Mal-humorado e resmungão...
Aos poucos, ganhou meu coração
Deu mais suavidade a meus dias

Uma nova esquisitice por mês:
Miado gutural, cenho cerrado
Pra gente se sentir culpado:
“E meu passeio no quintal,
A que estou acostumado?
E a provinha do jantar?
Meu paladar é refinado!”...

*

Seu vulto cinza e dançante
Seus olhos de lince, amarelos
- De muitos segredos e anelos
São de um esplendor triunfante

Íntimo de insondáveis mistérios
- Ian capta no ar suas vibrações
Soberano de inefáveis impérios
Que se prolongam em nossos corações

*

Gato gaiato
Que me faz rir
Nesse insensato
Ir e vir...
Insensato? Nem tanto!
Ele busca é uma chance
De se evadir!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

PENSAMENTO (POÉTICO) DO DIA, por Tádzio Nanan

Quando os tempos forem outros e outro for o mundo,
Quando as pessoas forem diferentes,
Ainda serei o mesmo,
O mesmo, tão somente.
E o abismo aberto entre nós
Será profundo e permanente.
Até o atrasado dia que eu me fizer ausente.

domingo, 22 de janeiro de 2017

PENSAMENTO (POÉTICO) DO DIA, por Tádzio Nanan


Se era para ser finito,

Que não me tivesse

Sido dado o grito

Da consciência!

Dessa contradição nasce Deus.

Deus nasce da compreensão da impermanência.

sábado, 21 de janeiro de 2017

PENSAMENTO (POÉTICO) DO DIA, por Tádzio Nanan

Tão irrelevante, tão pequeno,

E ainda assim tão sereno,

E ainda assim tão pleno.

Qual a mágica desse sentimento?

Desse pensamento, qual a mágica?

Aceitar com leveza nossa con(tra)dição trágica!



segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A REDOMA, por Tádzio Nanan


Na redoma não há permuta de ideias e sentimentos; palavras e afetos aqui não chegam, daqui não partem.
(Vem Penélope, enquanto nossos corações ardem...)

Sob sua vil influência, o afã pela vida é esperança natimorta.
(Às vezes, o mais difícil é passar a soleira da porta...)

De quando em quando, furiosamente a golpeio, numa tentativa de afirmar meus desejos; a redoma treme, estilhaça, mas logo se refaz, mais poderosa.
(Saudades dos sonhos juvenis e das amantes pressurosas...)

Dentro dela, minhas palavras perdem a força vital que as mantem vibrando no ar, e caem no esquecimento.
(Natureza, sol, vento, tragam-me algum alento...)

No vácuo entre a redoma e o mundo, não ouço o chamado da vida, não sinto a urgência das horas. Os espaços se estreitam, o tempo é suspenso, a realidade evapora. O impulso é ceder e calar. 
(Ar, ar, amor, amar...)

O mundo é apenas miragem, sem a linguagem.
(Ah, voltar a ser selvagem...)

A redoma é entidade vetusta, misteriosa, quiçá indecifrável.
Estarei dentro dela? Ou ela estará dentro de mim? 
(A redoma é meu coma, mas não será meu fim!)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

VIVER MIL ANOS, por Tádzio Nanan


queria viver mil anos apenas para testemunhar imprevisíveis mudanças acometerem o mundo a nossa volta!

viver mil anos, para ver...
as ventanias da história varrerem, como folhas secas, de outonos trágicos, para os confins da lembrança, deuses, homens, civilizações, significados; varrerem as ilusões da vaidade, os ridículos desejos de glória e eternidade;

para ver...
os diligentes operários da desconstrução tecerem a inexorável teia da impermanência - traças dizimando memórias de outrora; noites gestando revolucionários novos dias; inéditos pensamentos inspirando movimentos, embates, tensões, desafiando anacronismos;

viver mil anos, para ver...
um eventual retorno nosso ao útero materno: um silencioso e apaziguado universo;
saltos evolutivos, inesperadas auroras;
interregnos, retrocessos, ocasos;
segundo as leis do acaso, ou outras, incognoscíveis.

para ver...
a evolução da vida e as alquímicas transmutações da consciência desenharem os caminhos do infinito!
até o Grande Desconhecido!

triste ter de dormir, adiante, com tamanha saudade desse espantoso amanhã invivido!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

LIÇÃO, por Tádzio Nanan


Faminto de sentido? Sedento de significado?
Agarre o trivial (tantas vezes, raro): ame e seja amado.

Com sede de completude? Com fome de totalidade?
Um caminho promissor é abraçar a espiritualidade.

Deus? Ciência? Filosofia?
Amor? Ambição? Sabedoria?
Escolha seu caminho e nele siga, determinado.
Até a centelha da vida (a grande ilusão) ter se apagado...
Até o sopro da vida nas ventanias do mundo ter se dissipado...

Faminto de significado? Sedento de sentido?
Ansioso por mergulhar nas profundas águas do rio do entendimento?
Aqui está a lição número um: o homem nasceu para o esquecimento...

sábado, 7 de janeiro de 2017

SER EU DE NOVO, por Tádzio Nanan


não acredito mais em mergulhar nos vazios da alma, no silêncio das horas, no escuro do mundo
nem em montar o corcel alado dos delírios, cavalgando rumo a ignotas constelações, desejoso de revelações astrais
ou em embarcar na nau mística das coisas inominadas - não quero mais ser louco, ou ser nada

chega de sufocar nos labirintos da dúvida ou de me jogar nos abismos da razão (como se lá pudéssemos intuir as verdades secretas da vida, mas não podemos)
chega de ser este personagem: o que se perdeu de si, o que se desligou do mundo, o que se afastou do caminho

não quero mais questionar tudo, com tantas e tamanhas indagações - quero o sentido do simples e o simples sentido, hoje me satisfaz uma certa ignorância humilde, acolhedora
não quero mais perder o chão, os sentidos, o juízo, em incursões frenéticas aos ocultos palcos da existência
quero pés na areia, cachos e pensamentos ao vento, olhares fixos no agora, na ágora
conectar-me com as redes do mundo, com as gentes do mundo, com o divino ao redor
encontrar-me comigo outra vez, ser eu de novo, para seguir em frente
seguir em frente oferecendo mais de mim aos outros, ao mundo