sábado, 7 de janeiro de 2017

SER EU DE NOVO, por Tádzio Nanan


não acredito mais em mergulhar nos vazios da alma, no silêncio das horas, no escuro do mundo
nem em montar o corcel alado dos delírios, cavalgando rumo a ignotas constelações, desejoso de revelações astrais
ou em embarcar na nau mística das coisas inominadas - não quero mais ser louco, ou ser nada

chega de sufocar nos labirintos da dúvida ou de me jogar nos abismos da razão (como se lá pudéssemos intuir as verdades secretas da vida, mas não podemos)
chega de ser este personagem: o que se perdeu de si, o que se desligou do mundo, o que se afastou do caminho

não quero mais questionar tudo, com tantas e tamanhas indagações - quero o sentido do simples e o simples sentido, hoje me satisfaz uma certa ignorância humilde, acolhedora
não quero mais perder o chão, os sentidos, o juízo, em incursões frenéticas aos ocultos palcos da existência
quero pés na areia, cachos e pensamentos ao vento, olhares fixos no agora, na ágora
conectar-me com as redes do mundo, com as gentes do mundo, com o divino ao redor
encontrar-me comigo outra vez, ser eu de novo, para seguir em frente
seguir em frente oferecendo mais de mim aos outros, ao mundo


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