sexta-feira, 11 de setembro de 2009

CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS

morri às uma da manhã, ressurgindo às cinco

ergui-me, trôpego, do féretro cotidiano, desgostoso com as quatro horas de malíssimo descanso

redivivo, comer: lixo industrializado, que me está degenerando em aterro sanitário ambulante, incapaz de gesto feroz e pensamento ágil, como deve ser na selva onde vivemos

degluti pílulas para combater todo tipo de dor, físicas e espirituais, reais e imaginárias, numa espécie de liturgia ante o altar da auto-comiseração

química fina e lixo industrializado: morte lenta e dolorosa!

o mundo ladra no ecrã do computador: vira-lata estúpido correndo atrás do rabo!

notícias, pesquisas, downloads, para quê mesmo?

redijo considerações sobre assuntos que desconheço profundamente, coisa a que os pseudo-intelectuais da minha geração do fast-food da informação se afeiçoaram

estou ficando tão bom nisso (acumular dados desconexos) que vou acabar sabendo nada sobre todas as coisas, diferentemente de conhecidos ilustres, tolos super-especializadas, conhecedores de absolutamente tudo sobre absolutamente nada

o auto-engano! Generalistas e especialistas estamos todos errados

agora é sério. horas pesquisando sobre cinema. diretores, roteiros, interpretações.listas de filmes para meses vindouros. o cinema há cinco anos o cortejo. mais de quinhentos filmes alugados em mais de sessenta meses. cem por ano, oito por mês, dois por semana, de média. quatro reais por filme, dois mil reais ao todo. o que poderia fazer de mais interessante com esse valor? e senti tantas emoções diferentes, vi tanta beleza concentrada, vesti a pele de tantas personagens, viajei a tantos lugares inimagináveis, creio que o custo de oportunidade foi baixo, desculpem-me os não-economistas. o cinema tem cem anos apenas e coisas exuberantes foram feitas, sendo apenas infante imberbe. compare com outras manifestações artísticas: poesia, literatura, pintura, escultura, arquitetura, música, todas muito mais vetustas que ele. a questão é: será que dura mais cem, duzentos anos? enquanto houver História, literatura, dramas e alegrias humanas o cinema terá matéria-prima na qual fundamentar-se (o cinema e todas as artes). mas, resta saber: quanto tempo ainda nos resta de História, dramas e alegrias humanas?
profeta do pós-humano, profeta da era pós-orgânica, acusar-me-ão.
quem viver, verá. mas não há de sobrar ninguém nem pra ver nem pra chorar...

Tádzio Nanan

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