sou uma fração de segundo do tempo da humanidade
que é uma fração de segundo do tempo da vida
que é um pedaço do tempo da Terra
que é um pedaço do tempo do universo
que veio de uma coisa que não tem nome
embora muitos o chamem medrosamente de big-bang
mas que prefiro chamar de Mistério
sou nada face à história, face à natureza, face à vida: tudo existiu e existirá sem mim
mas sou tudo, pois vivo e tenho minha estória e minhas interpretações da história e possuo um universo maior que o universo ardendo nas entranhas (explodindo infinita e recorrentemente) e sem mim não saberia da vida, da natureza, da história, nem do universo
sem mim ignoraria tudo
sem mim estaria desabrigado, seria nada
mas comigo eu sou
comigo eu sou
eu sou
deus é nada
e deus é tudo
para os que acreditam e os que não acreditam nele
e todas as verdades são nada e são tudo – embora a verdade seja uma idéia volúvel vagando na mente de cada homem...
o tempo é um instituto que dá sentido à vida, mas existi?
o amor, a paz, as idéias e os ideais, a própria civilização, são o quê? ilusões dos sentidos, vibrações de partículas subatômicas na caótica dança do universo (alguns dirão que é ordenada, e não caótica a dança do universo; mas não se engane: o universo é um péssimo bailarino)
pequenas mentiras dão um feitio racional à vida, são imprescindíveis
pequenas mentiras repetidas tornam-se verdades absolutas, sobretudo aquelas que nos agradam, e nos ajudam a suportar a vida, e a carregar a cruz de viver – demasiadamente pesada para alguns, e tornam a vida precisa e certa, embora estejam erradas, porque a vida é mesmo imprecisa, incerta; a vida é mesmo suja e louca, e não me venha dizer o contrário
haverá sempre a natureza?
(outras naturezas artificiais ainda serão inventadas em nosso porvir cibernético?)
haverá sempre mulheres prenhes e corações idealistas?
mas todas estas coisas existem agora e é isso que importa
porque o tempo importa no exato instante que passa, e só tem importância porque passa
a vida só tem valor porque acaba
o amor só tem valor porque acaba
o amor grande, o amor infinito, é o que é fugaz
o que deixará de ser só deixará de ser porque foi
o que será nada já foi tudo (e quiçá volte a sê-lo, ainda que diferentemente, posto que tudo é energia, que é imortal)
o que gemeu e amou e lutou e bradou só calará porque bradou e lutou e amou e gemeu
mas o silêncio também é parte essencial da música
mas o silêncio também é parte essencial da música
e ser cônscio desse tudo (ou desse nada)
apazigua minha alma e me basta!
Tádzio Nanan
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