quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

DOIS POEMAS TRISTES, por Tádzio Nanan

 

a vida aconteceu
enquanto cultivava a arte
a vida aconteceu
agora, já vai caindo a tarde
e eu não sou mais eu: não sou mais todo, sou parte

a vida aconteceu
enquanto cultivava o riso
a vida aconteceu
no mais caótico improviso
e eu não sou mais eu, destarte

a vida aconteceu
               levou
               o amor que não pude dar-te

a vida aconteceu
               secou
               os mares de singrar-te
 


a vida aconteceu
enquanto cultivava flores
a vida aconteceu
agora, só vicejam as dores
e eu não sou mais eu: sou metade de um homem

a vida aconteceu
enquanto cultivava sonhos
a vida aconteceu
cerrando meus olhos tristonhos

e eu não sou mais eu, sou ontem

a vida aconteceu
               doeu
               agora a vida me consome

a vida aconteceu
               não sou mais eu
               sou o que não tem nome






*





Amanheci do meu mistério

Agora me compreendo

Não significa que me goste

Compreendo-me apenas



Não tenho nada a ensinar a ninguém

Não tenho nada a dizer a ninguém

Não tenho nada a aprender com ninguém

Não tenho nada a ouvir de ninguém



A poça é rasa

A água está parada

No limo, infestações proliferam



Eu matei a charada, que não significava nada

Eu nunca fora culpado, mas nunca serei inocente



Tudo é absurdo, vão, escuro, sujo, feio e fede insuportavelmente...



Amanheci do meu mistério

Que pena



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