Mãe de todos nós, cuidadora da humanidade, a mulher merece a proteção, o cuidado e carinho, não só da parte do seu parceiro e familiares, mas, sobretudo, por parte do Setor Público, do Estado, que deve materializar esse cuidado e esse carinho em direitos concretos, proteção e promoção permanente não apenas quando a mulher está gestante, mas por todo o período subseqüente, mormente nas diversas etapas do desenvolvimento infanto-juvenil. O que, infelizmente, está longe de ser realidade no Brasil. Na verdade, ocorre o oposto. A mulher continua sendo “o negro do mundo”, como disse o John Lennon. Continua sendo o mais pobre entre os mais pobres. Há um completo descaso em relação à saúde, segurança e bem-estar das gestantes e um total abandono, quando não abuso, da infância, com resultados tenebrosos: alto número de mortes de gestantes, altos índices de mortalidade infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, violência doméstica e social contra a mulher e a criança. Ameniza-se este estado de calamidade com maciços investimentos em saúde pública, e com políticas focalizadas na questão feminina. Claro que já existem boas políticas, mas é preciso avançar para muito além.
Não basta apenas cuidar da gestante, é urgente dar poder às mulheres (empower women). Dar-lhes acesso ao poder político e ao poder econômico, para que tenham realmente autonomia e liberdade, fazendo parte das instâncias decisórias, das decisões políticas e econômicas, no intuito de tornar as sociedades humanas mais iguais, plurais, produtivas e pacíficas. A História comprova a ineficácia e o horror do monopólio masculino do poder, seja ele político, econômico, intelectual. É preciso criar os instrumentos legais e as políticas públicas necessárias para que as mulheres atinjam objetivos como: aumentar sua representação nos parlamentos locais, regionais e nacionais; reduzir as diferenças salariais entre os gêneros; ocupar funções destacadas do setor público e do setor privado; desenvolver suas habilidades, seus conhecimentos, escolaridade, em todos os níveis; evitar a gravidez precoce; combater o desrespeito, a violência, a exploração sexual.
Estudos comprovam que a pobreza (para não falar neste crime hediondo que é a miséria) tem conseqüências devastadoras sobre a saúde e o desenvolvimento físico e mental, o desenvolvimento intelectual, cognitivo, sobre a imaginação, e mesmo sobre os traços de personalidade que as crianças vão desenvolver na vida adulta. A falta de alimentação adequada já na primeira infância pode acarretar severas conseqüências que as crianças levarão para o resto de suas vidas, afetando sua saúde e desenvolvimento físico, podendo acarretar uma lesão cerebral que os fará menos aptos intelectualmente e menos criativos e imaginativos. Por isso, políticas públicas (como o Bolsa Família) que resultem em melhores níveis de alimentação na tenra infância (fase crucial do desenvolvimento humano já amplamente comprovado pela ciência e divulgado em relatórios mundo afora) e mais e melhores horas de estudo durante toda a sua infância e adolescência, são indispensáveis para o desenvolvimento de uma nação. Isso não é política assistencialista. Nem caridade. É um dever moral e também tem uma racionalidade econômica, o melhor investimento econômico: investir no ser humano, investir em corpos e mentes, donde sairão as descobertas científicas e inovações tecnológicas e toda a arte que se fará no futuro, donde emergirá o próprio futuro. Uma política pública que revolucionaria esse país, já realizada por muitos países, não por acaso os mais ricos, e de resultados comprovados: tornar a escola pública melhor que as escolas particulares, instaurando, de fato, a meritocracia. Imaginem os filhos dos banqueiros lado a lado nos mesmos colégios que os filhos do porteiro do prédio em que moram. Isso sim faria um país realmente justo e democrático!
Para sermos verdadeiramente livres e vivermos plenamente a vida, sem exploração e alienação, devemos superar o capitalismo. Mas, mesmo dentro da lógica do capital, uma regra é sagrada: a competição. E para que ela possa existir efetivamente tem de haver igualdade de condições para todos, independentemente de quaisquer outros fatores. Assim, é um imperativo ético, político e econômico urgente dotar os filhos das classes mais baixas dos instrumentos e das políticas públicas para torná-los em condições de competir com os filhos das classes abastadas. Não existe competição honesta entre os radicalmente desiguais. Por enquanto o Brasil só opera para os 10% mais ricos, reproduzindo um quadro de extrema desigualdade. Está mais para Medéia do que para “mãe gentil”.
Tádzio Nanan
Economista
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