terça-feira, 18 de agosto de 2009

A IGNOMÍNIA DA VIDA Por Adriano Oliveira Costa

Nos tempos atuais, em que a banalidade e o supérfluo sobrepõem-se a muitas das virtudes humanas, são tempos em que os bens materiais dizem quem você é e que a marca do seu carro vale mais que seu caráter, uma pergunta me aflige: o que é viver nos tempos atuais? O que molda o estilo de vida atual? É muita pretensão querer uma resposta definitiva, mas podemos esboçar alguns estratagemas.

O que leva as pessoas a buscar uma melhoria de vida, em termos materiais? Sei que temos que galgar objetivos na nossa vida, mas os meios será que são justificáveis? Sacrificar metade da sua vida, sem ver seus filhos crescendo, tudo em nome da independência financeira, é mesmo correto? Algumas pessoas dizem que vale a pena este sacrifício, mas jogo uma seguinte indagação: não seríamos apenas marionetes de interesses maiores, que querem CEO’s competentíssimos, mas se lixam da saúde e vida pessoal dos mesmos, vale mesmo a pena? Somente vale a pena se você souber contrabalançar os aspectos pessoais e profissionais, senão você não terá a alegria completa, mas um senhor patrimônio, mas como usufruí-lo, já que se desgastará tanto que não terá condições de saúde.

A sociedade também dispõe de muletas que nos fazem sobreviver, seja a religião, o sexo, as drogas, ilícitas e lícitas, a família, por que não a família? A sociedade quer que você tenha uma vida regrada, cotidianamente modorrenta, casa própria, filhos, encontros de casais, sair para jantar com casais amigos. Tudo isto o leva a se bestializar cada vez mais, é mais um mecanismo que regula sua vida.

A conclusão que chego é a seguinte: viva sua vida da maneira que seja mais correta para você. Quer entrar na ignomínia do capitalismo, entre! Quer ser um porra-louca sem destino, seja! Quer levar sua vidinha correta, com bom emprego, um casamento pequeno burguês, o carro do ano, leve! Só não se deixe guiar por convenções pré-estabelecidas que moldaram o way of life no pós-guerra e influenciaram a sociedade de consumo que solapou as verdadeiras virtudes do ser humano. Tenho, logo existo!


Vida
(Chico Buarque de Hollanda)

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz

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