segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ESFINGE - I

Coração há que olvide tua beleza?
De rosa a desvirginar a primavera
De sol a inaugurar uma outra era
De novos sonhos e mais delicadeza

E alma há indiferente à tua tristeza?
Que confere ao teu olhar larga gravidade,
Como se lá houvesse sorumbática cidade
Onde reinasse noctívaga princesa

Teu olhar horrendo, de outra Medusa
Vai refazendo os corações humanos em pedra
E em tua plástica beleza só o malefício medra
Volúpia estéril, cristalizada na recusa

E teus gestos, que engendram sombras delirantes
Ora parecem pesadas: as memórias doídas?
Ora parecem abatidas: as paixões perdidas?
Malditas sombras, que te arrastam a vãos distantes

Bebe, triste e bela infanta de longínqua esfera
Um gole do Letes, sim, o esquecimento...
Antes que morras do tétrico sofrimento
Bebe um gole! Foge do mal que te lacera!





Tádzio Nanan

Nenhum comentário: