Havia
um sujeito que queria ser o astro mais resplandecente do firmamento.
Era atraente, mas pensava ser atraentíssimo. Era esperto, mas
pensava ser espertíssimo. Era talentoso, mas pensava ser
talentosíssimo. Era especial, mas pensava ser especialíssimo.
Ocorreu que se assoberbou. Flutuava por entre as nuvens porque não
admitia mais pisar o solo; ora, pisar o solo que qualquer um pisava?
O semelhante tornou-se dessemelhante, um acessório para brincar-se,
um meio de atingir determinada finalidade, um subalterno a quem se
humilha, de quem se abusa, a quem nem se olha a cara. Até que um dia
– doloroso e abençoado dia, confrontando-se sozinho com o
implacável espelho da própria consciência, sob o rigoroso crivo da
própria inteligência tão arduamente cultivada,
percebeu, nauseado, que se sobreavaliara, sim, sobrestimara a si
mesmo, e quedou-se estático, mudo, arbóreo, infelicidade e vergonha
subindo-lhe as raízes, espraiando-se à copa. Ele era menor do que
se supusera. Apesar de especial. Apesar de talentoso. Apesar de
esperto. Apesar de atraente. Mas era menor do que se supusera! E
passou a morrer um bocadinho por dia, da vaidade ferida, do orgulho
dilacerado, da auto-estima feita em pedaços, irrefreáveis
hemorragias da alma...
Mas
ele há de se recompor, aceitar-se, e um dia agradecerá o que sabe e
o que pode! Sim, ele há de se recompor.
O
tempo há de curá-lo. O tempo cura tudo. O tempo cura até a morte.
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