domingo, 8 de novembro de 2009

CONFISSÕES parte 1

Me apaixonei perdidamente, sussurrou desfalecente. E seu marido, meu chefe, mal dera alguns passos em direção ao mictório. Tocou-me languidamente as coxas, deslizou as mãos pelas mesmas, depois as recolheu, insistiu outra vez, ficou confusa, fez cara de boba, cara de sexy, cara de choro, cara de adolescente apaixonada. Minha aflição só aumentava, enquanto assistia à insólita cena. Só queria sumir dali, o escândalo que não ia ser isso, e de quebra minha demissão, vexatória, pública, irrevogável; ela é o supra-sumo das formas femininas, mas nesse momento meu contracheque é muito mais importante; mas devo admitir: em outras tantas ocasiões, a mulher do próximo mereceu de mim a mais completa prioridade! Bom, não sei como, ela se conteve, vestiu a comuníssima máscara da satisfação e pôs-se calada. Ele estranhou o comportamento um pouco indiferente dela, fez piada com isso, culpou a menorréia, e continuou bebericando, discorrendo sobre amenidades, no que o acompanhei, louco para ir-me embora.

Mais tarde, voltando das compras, já entrando no meu apartamento, observei qualquer coisa na soleira da porta. Eram meia dúzia de cartões, com declarações de amor fartamente açucaradas, enjoativamente infantis, como todas as cartas de amor de todos os chatíssimos amantes dos mais variegados quadrantes do mundo; enfim, Juliana entregava-se de corpo e alma no ardente e pecaminoso leito da luxúria; a luxúria tem nome, o meu: JP, também conhecido entre os meus como o lobo da estepe; animal pouquíssimo dado a romantismos, insensível como os meus congêneres da Idade da Pedra Lascada, que sofre de horror à intimidade e absolutamente incapaz de se prender a uma alma que seja, nem que seja à Divina, agrilhoado à redentora idéia da infidelidade a todos as coisas, idéias e seres vivos. Meus detratores me chamam de porra-louca, desvairado, anarquista sem caráter, no que provavelmente estão certos. Mas não vamos dissecar minha personalidade nesse momento...

Você deve estar se perguntando como por mim se apaixonara tão voraz e terminantemente a mulher do meu chefinho. Bom, então é necessário que eu faça uma inconfidência: é óbvio que ela e eu transamos, e bastante! Aliás, transar é um eufemismo: fodemos mesmo, doses cavalares de sexo! Foram pelo menos dez fodas, antológicas, inesquecíveis, geralmente quando viajávamos à casa de praia do Mauro (o chefe e marido corno), para resolvermos assuntos de trabalho. Como ninguém é mais criança por aí, vou dar com a língua nos dentes: sucede que cada reuniãozinha dessas degringola amiúde em cocaína e porres homéricos; e com a censura da consciência de guarda baixa um dos meus golpes mais mortais e freqüentes é seduzir a mulher do próximo, seja quem for o infeliz, até meu chefe! Foi em tais circunstâncias que conheci os orifícios mais íntimos da Juliana. E deix´eu falar em alto e bom som: vale totalmente o risco de se levar um balaço no meio das fuças. Olhe, veja bem, não sei quem foi o idiota que inventou essa estória de mulher ter dono: mulher não tem dono, não! E isso não é nenhum arroubo feminista tardio da minha pseudo-intelectualidade mal estruturada; na minha abalizada opinião de vagabundo fundamental, ninguém é de ninguém ou, se preferir, todo mundo come todo mundo! Essa, meu irmão, é a nascitura moral sexual do século XXI. Mas deixemos a filosofice de lado e terminemos a estória: ela jurou de pés juntos e as mãos espalmadas que o cara não vinha fazendo o serviço direito havia dois anos; bom, talvez essa tenha sido a desculpa que ela arranjou para satisfazer seus instintos primevos sem culpa...


Por JP, (eu mesmo!) um anti-herói brasileiro

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