quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O PASSAGEIRO DAS HORAS


Picasso


O Homem é consciência de si próprio.
Auto-caritativo, faz nascer do vazio que lhe cerca os fantasmas sagrados de um Deus humanado e de um Homem deificado. Tolamente, ignora, ou talvez apenas finja ignorar, que o vazio que lhe cerca e que lhe oprime é o deus a venerar, a beleza da sua humanidade, o sentido da sua hora, a poesia pungente da sua vida.


O Homem é o único mistério (teoriza outros para esquecer sua confusão e solitude).
Caminha, tropeça, levanta-se. Resiste.
Bêbado no eterno embate entre a aceitação dos fatos e sua negação.
Pergunta-se sem obter respostas e segue carregado pela grande miragem das horas.
No cimo da jornada, pranteia, saudoso do tempo ido, e mergulha outra vez no leito eterno, que é o nada.


Nasce só, vive só, morre só.


Escravo da sua inteligência,
Num golpe de auto-engano,
Elabora respostas para seu enigma
Enquanto intoxica-se com todas as ilusões que inventa:
Amor, dinheiro, poder, religião, conhecimento...


Mas é simplesmente pó!


Olha-se no espelho e, comovido,
Relembra a paz do útero materno,
E o amor incondicional da tenra infância...
Sonhos passados, levados pelas vagas do tempo...


A íntima dor humana é a morte:
Pesadelo e angústia dos vivos
Abismo que nos espreita, sorrateiro
Dor que confrange o peito
Hino que cantamos de cor
Fado inexorável


O medo da morte é uma paixão humana


A condição do Homem é um duplo:
Sopro de luz e treva
Padecimentos e delícias
Fugas e enfrentamentos


Acaso é a lei da vida
Acidente no percurso da matéria pelos espaços inauditos
Fragmento infinitesimal do tempo, do espaço, do universo
Devaneio baldadamente sonhado pela conflagrada Mente Divina...





Tádzio Nanan

Nenhum comentário: